O Hino da proclamação da República do Brasil foi composto, inicialmente, para ser o Hino do Brasil, no período imediatamente posterior a Proclamação da República. Os republicanos desejavam criar os novos símbolos do novo regime e para isso, em 1890, lançaram um concurso para escolha do novo Hino Oficial do Brasil. O concurso foi realizado no Teatro Lírico, do Rio de Janeiro, em 20 de janeiro de 1890.
O hino vencedor, com letra de José Joaquim de Campos da Costa de Medeiros e Albuquerque (1867 - 1934), um professor, jornalista, escritor e político entusiasta do ideal republicano (foto à esquerda). A letra é composta de vocabulário rebuscado, fruto, talvez, da formação intelectual de Medeiros e Albuquerque. O autor da letra do hino foi um dos fundadores da Academia Brasileira de Letras ocupando a cadeira 22, cujo patrono era José Bonifácio.
A música coube a Leopoldo Américo Miguez (1850 - 1902) , um respeitado músico com formação erudita que foi diretor e professor do Instituto Nacional de Música (foto à direita).
A peça terminou não sendo utilizado como Hino Nacional por decisão do Marechal Deodoro da Fonseca. Por meio de Decreto, em janeiro de 1890, o novo governo brasileiro determinou que a composição fosse utilizada como Hino de Proclamação da República.
Comento: Lembro que na década de setenta o Hino da República era cantado nas escolas e colégios do país. Atualmente o Hino não é um dos mais conhecidos, entretanto, em 1989, trechos da sua letra ufanista, terminaram dando em samba. O verso “Liberdade, liberdade, abre as asas sobre nós” foi popularizado pela escola de samba Imperatriz Leopoldinense, em um samba enredo para a comemoração do centenário da república. O refrão, com algumas adaptações, foi fundamental para transformar o samba enredo, de autoria de Niltinho Tristeza, Preto Jóia, Vicentinho e Jurandir, em um dos mais conhecidos e populares da história dos desfiles das escolas de samba, levando a Imperatriz ao título de campeã do carnaval de 1989.
Hino da Proclamação da República do Brasil (Medeiros e Albuquerque Leopoldo Miguez. Publicada no Diário Oficial de 21 de Janeiro de 1890.
Seja um pálio de luz desdobrado.
Sob a larga amplidão destes céus
Este canto rebel que o passado
Vem remir dos mais torpes labéus!
Seja um hino de glória que fale
De esperança, de um novo porvir!
Com visões de triunfos embale
Quem por ele lutando surgir!
Liberdade! Liberdade!
Abre as asas sobre nós!
Das lutas na tempestade
Dá que ouçamos tua voz!
Nós nem cremos que escravos outrora
Tenha havido em tão nobre País...
Hoje o rubro lampejo da aurora
Acha irmãos, não tiranos hostis.
Somos todos iguais! Ao futuro
Saberemos, unidos, levar
Nosso augusto estandarte que, puro,
Brilha, ovante, da Pátria no altar!
Liberdade! Liberdade!
Abre as asas sobre nós!
Das lutas na tempestade
Dá que ouçamos tua voz!
Se é mister que de peitos valentes
Haja sangue em nosso pendão,
Sangue vivo do herói Tiradentes
Batizou este audaz pavilhão!
Mensageiros de paz, paz queremos,
É de amor nossa força e poder
Mas da guerra nos transes supremos
Heis de ver-nos lutar e vencer!
Liberdade! Liberdade!
Abre as asas sobre nós!
Das lutas na tempestade
Dá que ouçamos tua voz!
Do Ipiranga é preciso que o brado
Seja um grito soberbo de fé!
O Brasil já surgiu libertado,
Sobre as púrpuras régias de pé.
Eia, pois, brasileiros avante!
Verdes louros colhamos louçãos!
Seja o nosso País triunfante,
Livre terra de livres irmãos!
Liberdade! Liberdade!
Abre as asas sobre nós!
Das lutas na tempestade
Dá que ouçamos tua voz!