No início de 1942, o compositor Pedro Caetano, autor de mais de 400 composições no período conhecido como “Era de Ouro do rádio”, participava de uma festa, quando foi abordado por uma fã. A jovem queria ser homenageada com uma melodia. Pedro, apesar de não gostar de fazer música por encomenda, ao saber o nome da fã, resolveu fazer uma exceção. A concessão do compositor tinha um motivo: a jovem se chamava Maria Madalena de Assunção Pereira. O nome parecia musical e não demorou muito para sair o Samba-Choro.
“Maria Madalena de Assunção Pereira, teu beijo tem aroma de botão de laranjeira...”.
A música ”Botões de Laranjeira” logo interessou Ciro Monteiro, que resolveu gravá-la. Não contava, o grande cantor, com um empecilho. A censura da época, imposta pelo famigerado DIP – Departamento de Imprensa e Propaganda do Governo Vargas que, ao exemplo da sua sucessora - a censura da ditadura militar dos anos sessenta e setenta - metia o bedelho em tudo, atazanando a vida dos artistas. Dessa vez, o órgão não liberou a letra argumentando tratar-se de nome próprio, portanto, seu uso feria a privacidade das pessoas.
A solução para resolver a bobagem, como sempre, foi o uso de artifícios criativos. Cesar Ladeira, famoso apresentador de programas musicais da época, propôs substituir o “de Assunção” por “dos Anzóis”. Afinal, não seria crível que alguém no mundo real tivesse esse sobrenome. O apresentador brincava com o ridículo da situação argumentando: “se alguém aparecer com esse nome, mande prender porque isso não é nome que se use”. O argumento deu certo.Os censores, em raro momento de lucidez, aceitaram o argumento e liberaram a música que se tornou um grande sucesso.
A história é contada por Jairo Severiano, no livro "Uma história da música popular brasileira – das origens à modernidade", lançado pela editora 34. O próprio Pedro Caetano confirmou o episódio em depoimento gravado. No depoimento, ele confessava que, na maioria das vezes, cantava a música com o nome original. Ouça o samba na voz do autor e, no segundo vídeo, interpretada por Ciro Monteiro, o preferido de Pedro Caetano, gravando pelo menos vinte músicas do compositor.
Parabéns pelo blog e pela história. Amo essas pequenas histórias de nossa música. Um abraço!!
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