Curiosidades de Música Popular Brasileira.
“Serra da Boa Esperança”, clássico de Lamartine Babo gravado pela primeira vez em 1937, por Francisco Alves, tem uma hilária história na sua criação. Existem variações de versões para a gênese da música, entretanto, todas remetem a uma série de correspondências trocadas pelo compositor e um dentista-músico conhecido por Carlos Alves Netto que resolveu utilizar um nome de um mulher para conseguir fotografias autografadas. Uma dessas versões foi dada pelo principal protagonista do fato, o próprio Carlos Alves, ao Jornal o Globo, em 1980.
Ele contou que, em 1935, morava na cidade de Boa Esperança, em Minas gerais, onde fica localizada a serra homônima. Apaixonado por música, e também por ser músico, colecionava fotografias autografadas de artistas famosos da época. Como desejava incluir Lamartine Babo na sua coleção, solicitou uma fotografia ao compositor por meio de um carta utilizando seu próprio nome. Não obteve sucesso. Resolveu, então, colocar como remetente o nome de sua sobrinha Nair Pimenta de Oliveira, à época com apenas 10 anos. As correspondências, segundo o dentista, ganharam desenvoltura e passaram a fluir “em versos, prosas, em sonetos bem compostos e paixão nas entrelinhas”. Entretanto, mesmo com várias cartas trocadas, “Nair” só conseguiu algumas fotografias 3x4. Resignado, o dentista resolveu acabar a farsa. Escreveu nova correspondência, ainda com o nome falso. informando que iria se casar e mudar-se para São Paulo. Encerrando definitivamente as correspondências da falsa “Nair”.
Um ano depois, em 1936, desta vez utilizando o próprio nome, Carlos voltou a escrever para Lalá convidando-o para o baile de estreia da orquestra que o dentista-músico ajudara a criar e se tornara maestro. Era a oportunidade que Lamartine queria para conhecer “Nair”... Não demorou muito, no dia 24 de julho do mesmo ano, o compositor chegou à cidade e se hospedou no hotel do pai de Carlos, onde também morava toda a família do anfitrião. Lalá sabia que o local era o endereço de correspondência da “admiradora”, mas, estranhamente, a única Nair que via era uma criança. O artifício do dentista só foi descoberto após uma inconfidência de uma das moradoras que resolveu colocar a história em pratos limpos. Apesar de inicialmente constrangido, a decepção de Lalá não durou muito tempo. A agradável e solidária companhia de um grupo de 20 jovens, rapazes e moças, que o compositor chamaria depois de “Minhas 20 saudades Dorenses” - a cidade à época se chamava Dores de Boa Esperança - amainaram seu desencanto.
“Nós os poetas erramos / Porque rimamos também / Os nossos olhos nos olhos / De alguém que não vem”
Foram doze dias de estadia na pequena cidade que ficariam inesquecíveis para o compositor e aguçaram sua conhecida capacidade criativa. No dia 3 de agosto, olhando para a serra que originou o nome da cidade, batendo em uma caixa de fósforo, começou a solfejar e a escrever os primeiros versos de “Serra da Boa Esperança”, que logo foram transferidos para partitura pelo agora amigo Carlos Netto. Conta dona Carmem Cunha, uma das “vinte dorenses”, que em um piquenique de despedida, Lamartine cantou a música, acompanhado dos amigos, várias vezes e que todos já sabiam a letra de cor.
Comento: Lamartine voltaria à cidade mais uma vez, no carnaval de 1937, nesse período compôs a segunda parte de outro grande sucesso, a música “Vaca Amarela”, cuja primeira parte já havia sido feita justamente por Carlos Netto. A música foi gravada por Araci de Almeida.Lamartine só se casaria, anos depois,em 1951, aos 47 anos, com Maria José Barroso.
Ouça cinco versões de “Serra da Boa Esperança”, interpretada por grandes nomes da música brasileira. Escolha a sua preferida.
Francisco Alves
Gal Costa
Cascatinha e Ianhana
Sílvio Caldas
Altemar Dutra
Todas as gravações são lindas,mas a do Eduardo Dusek...
ResponderExcluirA de Altemar Dutra na minha opinião é a mais bela interpretação dessa imortal música.
ResponderExcluirTodas são lindas sim.
ResponderExcluirGostaria de lembrar a de Décio Marques.
Voz maravilhosa e alma na interpretação.