sexta-feira, 15 de março de 2013

Osvaldo Cruz e a polca "Rato rato".

Curiosidades de Música Popular Brasileira

No início do século XX, o Rio de Janeiro estava infestado de vetores de  doenças infecciosas decorrente da falta de higiene da população e condições insalubres das moradias. Em decorrência, era comum, na então capital do país, a incidência de varíola, peste bubônica e febre amarela. Coube ao jovem médico Osvaldo Cruz, à época Diretor da Diretoria Geral de Saúde Pública –DGSP, a difícil tarefa de empreender ações profiláticas de viés médico higienista para reduzir ocorrência de infectados que já causavam um considerável número de mortes.

Com amparo em lei regulamentada especificamente para combate as causas da proliferação das doenças, foram realizadas demolição de cortiços, desratização e dedetização das casas a qualquer hora, isolamento de doentes, fim da ordenha de vacas nas ruas, da criação de porcos em casa e prisões aos desobedientes, sacrifícios de cães vadios, dentre outras ações que não contaram com o apoio de uma população incrédula quanto à eficácia das ações mitigadoras e revoltada com o autoritarismo das normas.

O certo é que as ações do sanitarista obtiveram excelentes resultados, mas lhe custou uma série de críticas e revoltas incentivada pela oposição que se aproveitava da ira da população. Eram comuns charges, galhofas e letras de músicas ridicularizando o médico. A polca “Rato rato” é um desses exemplos de sátira desse momento conturbado. A música, um grande sucesso do carnaval de 1904, composta pelo músico da Banda do Corpo de Bombeiros do Rio de Janeiro Casimiro da Rocha e letra de Claudino Costa, satirizava a campanha de desratização da cidade do Rio de Janeiro, implantada por Osvaldo Cruz, entre 1903 e 1907, para erradicar a peste bubônica - doença transmitida por meio das pulgas alojadas nos roedores.

Dentre as várias medidas, estava incluída a compra, pelo estado, de ratos mortos. Um Decreto chegou a criar a figura do “ratoeiro”, profissionais encarregados de intermediar a compra dos roedores e que, para atingir a meta estipulada de animais abatidos por dia, aos gritos de “rato, rato, rato”, perambulavam pelas favelas, cortiços e bairros pobres da cidade com uma lata na mão e uma corneta para anunciar sua chegada e recolher os bichos sacrificados pela população. Mesmo com os desvios percebidos – foram relatados casos de pessoas que criavam ratos para vendê-los – o programa foi exitoso, estima-se que 1,6 milhões desses animais foram exterminados e os casos de peste bubônica foram reduzidos consideravelmente.

Ouça a polca choro em três versões. As duas primeiras ainda no tempo da gravação mecânica. Tempo em que os cantores praticamente gritavam para ter sua voz registrada no disco. A primeira é uma versão ainda sem letra de Casimiro da Rocha, gravada em 1907, a segunda versão, já com letra, interpretado por Artur Castro em 1913 e a terceira, uma gravação de 1945, da inesquecível Ademilde Fonseca.

Casemiro de Abreu

Artur Castro

Ademilde Fonseca


LETRA

Rato, rato, rato
Porque motivo tu roeste meu baú?
Rato, rato, rato,
Audacioso e malfazejo gabiru.

Rato, rato, rato,
Eu hei de ver ainda o teu dia final,
A ratoeira te persiga e consiga,
Satisfazer meu ideal.

Quem te inventou?
Foi o diabo, não foi outro, podes crer
Quem te gerou?
Foi uma sogra pouco antes de morrer!

Quem te criou?
Foi a vingança, penso eu,
Rato, rato, rato, rato,
Emissário do judeu.

Quando a ratoeira te pegar,
Monstro covarde, não me venhas,
A gritar, por favor.
Rato velho, descarado, roedor
Rato velho, como tu faz horror!


Vou provar-te que sou mau,
Meu tostão é garantido,
Não te solto nem a pau...

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