Considero o samba “A Rosa e o Espinho” uma verdadeira obra
prima. Seus versos, de rara beleza, se adequaram como uma luva à comovente
melodia. Oficialmente, a autoria da
música é atribuída a três compositores, dois deles - Guilherme de Brito e Nelson
Cavaquinho (foto à esquerda) - são dois grandes nomes da história do samba brasileiro. Muitos ficam
surpresos quando descobrem que o terceiro e desconhecido parceiro, um certo Alcides
Caminha, é o famoso Carlos Zéfiro, pseudônimo do autor das famosas revistinhas
eróticas, conhecidas como catecismos, que faziam a festa dos adolescentes e
marmanjos entre as décadas de cinquenta e setenta.
Embora Alcides Caminha, sempre com convicção, afirmasse ser parceiro ativo na música. Nelson
Cavaquinho, entretanto, em entrevista ao Programa Ensaio, realizado pela TV
cultura em 1973 (aqui) , confessou que vendia parceria em muitas
músicas e que em “A Flor e o Espinho” não fora diferente - a música teria sido
feita apenas por ele e Guilherme de Brito, fato confirmado por Guilherme em
entrevista para o Site Samba- choro (aqui).
Confira a declaração de Guilherme de Brito:
"[...]O Nelson vivia na miséria, então toda música dele tinha
aqueles parceiros, aqueles caras que entravam na música e davam um dinheiro a
ele. Mas essa música quando o Alcides Caminha se interessou o Nelson veio falar
comigo, ‘O Alcides vai dar 3 contos de réis e vai ser metade pra mim, metade
pra você’. Eu sempre fui contra isso, ele colocou parceiro em “Tatuagem”, em “Luto”
[...] Ele era assim. Você pode ver que ele nunca gravou sozinho. E eu lutando
pra ele parar com isso. Mas quanto ao Caminha, um dia a Rádio Globo chamou eu e
o Nelson pra fazer um programa. Tinha um camarada que perguntava assim, ‘Vem
cá, a quem é que você vendeu a música?’ E o Nelson, ‘Vendi pro Moreira da
Silva, pro fulano de tal’ E aí o camarada perguntou pra mim, ‘E você,
Guilherme, a quem que você vendeu a música?’ Eu digo, ‘Eu nunca vendi música
pra ninguém. Mas a música minha e do Nelson que tiver mais alguém, esse cara
pagou pra entrar’. Eu não quis acusar ninguém, mas não podia esconder a
verdade. Então o Caminha escreveu pra Rádio Globo dizendo que a primeira era do
Nelson e a segunda era dele. Aí eu tive que abrir o jogo. Ele entrou ainda em ‘Notícia’
e acho que em alguma outra. A verdade é que o Nelson tinha aquela freguesia
dele. [..]."
Guilherme confessou, ainda, que os
versos iniciais de “A flor e o espinho”, considerada por Sérgio Porto uma das mais belas imagens de nosso cancioneiro,
foi feita por ele, cabendo a Nelson Cavaquinho a complementação da
música.
Comento: Se existe polêmica quanto ao papel de Alcides Caminha (foto à esquerda) na
música, fato que, talvez, nunca saberemos com certeza, o mesmo não se pode
dizer quanto a sua vertente de desenhista. Os "catecismos" eróticos de Carlos Zéfiro
chegaram a ter tiragem superior a 30 mil exemplares. O desenhista sempre
escondeu da sociedade a sua atividade paralela, receoso de ter problemas no
emprego público – ele era servidor público do setor de Imigração do Ministério do Trabalho. Somente em 1991, um ano antes da sua morte, é que revelou sua
verdadeira identidade, em uma reportagem de Juca Kfouri
para a Revista Playboy. Alcides Aguiar Caminha nasceu no Rio de Janeiro , em 25 de dezembro de 1921
e faleceu na mesma cidade, em 5 de julho de 1992.
Ouça três belas interpretações de “A Flor e o Espinho”. Três
grandes cantoras de três gerações diferentes, cantando um samba que jamais
ficará velho. A competente Roberta Sá, a diva do samba Beth Carvalho e a Divina
Elizeth Cardoso. Vai ser difícil, mas escolha a sua melhor versão.
Impossível tomar uma posição, três excelentes intérpretes e imbatíveis quanto à interpretação pessoal. A letra e a melodia é memorável e excelentíssima na qualidade.
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