sábado, 5 de setembro de 2009

Otacílio Batista – Poeta do bom até para Manuel Bandeira. Curiosidades da MPB.

AÍ A MÚSICA TEM TAMBÉM SEUS PEQUENOS FATOS.

O poeta repentista, Otacílio Batista, autor dos elaborados versos da música “Mulher nova, bonita e carinhosa", gravada por Amelinha, é considerado um dos maiores mitos do repente nordestino. O poeta foi reverenciado até pelo grande poeta Manuel Bandeira.

No livro “A presença dos cordelistas e cantadores repentistas em São Paulo”, o autor, Assis Ângelo, conta que Manuel Bandeira escreveu o poema “Saudações aos cantadores”, depois de ouvir Otacílio Batista cantar durante um festival de violeiros, realizado no Rio de Janeiro. O poema foi publicado no Jornal do Brasil em 11 de dezembro de 1959 e, posteriormente, no livro “Estrela da Vida Inteira, de 1965.

“Saudações aos cantadores”

Anteontem, minha gente,
Fui juiz numa função
De violeiros do Nordeste
Cantando em competição,
Vi cantar Dimas Batista,
Otacílio, seu irmão,
Ouvi um tal de Ferreira,
Ouvi um tal de João.
Um a quem faltava um braço
Tocava cuma só mão;
Mas como ele mesmo disse,
Cantando com perfeição,
Para cantar afinado,
Para cantar com paixão,
A força não está no braço,
Ela está no coração.
Ou puxando uma sextilha,
Ou uma oitava em quadrão,
Quer a rima fosse em inha
Quer a rima fosse em ao,
Caíam rimas do céu,
Saltavam rimas do chão!
Tudo muito bem medido
No galope do Sertão.
A Eneida estava boba,
O Cavalcanti bobão,
O Lúcio, o Renato Almeida,
Enfim toda comissão.
Saí dali convencido
Que não sou poeta não;
Que poeta é quem inventa
Em boa improvisação
Como faz Dimas Batista
E Otacílio seu irmão;
Como faz qualquer violeiro,
Bom cantador do Sertão,
A todos os quais humilde
Mando minha saudação.”

Djavan, por sua vez, se inspirou nos versos de Manuel Bandeira e, numa adaptação livre, compôs "Violeiros", uma belíssima homenagem aos violeiros do nordeste. A musica foi gravada no album, “Coisa de Acender”, lançado em 1992. (veja o vídeo abaixo).

Comento: Otacílio Batista, mais novo da chamada trindade da cantoria nordestina, composta por seus irmãos, Lourival, o “Louro”, e Dimas, é considerado uma lenda da cantoria nordestina.

Extremamente criativo, o poeta pernambucano, de São José Do Egito, era admirado por muitos artistas e escritores famosos, dentre eles, Ariano Suassuna, Manuel Bandeira, Luiz Gonzaga e Zé Ramalho, este, com grande competência, deu nova roupagem à música “Mulher nova, bonita e carinhosa", antigo martelo de Otacílio. A música, que foi um grande sucesso na voz da cantora Amelinha, chegou a ser tema de abertura do seriado “Lampião e Maria Bonita”, exibido pela rede Globo em 1982.

Zé Ramalho chegou a produzir um disco de Otacílio, em 1976. Já O Quinteto Violado, um respeitado grupo musical dos anos 70, lançou no álbum Pilogamia do Baião, de 1979, “Martelo agalopado”, uma composição de Otacílio Batista, em parceria com o cantador Diniz Vitorino.

Apaixonado pelo repente, o Poeta escreveu vários livros sobre o assunto, dentre eles, “Antologia Ilustrada dos Cantadores”, de 1976, em parceria com poeta cearense Francisco Linhares, a obra é uma pesquisa onde relata a vida e obra de mais de 300 cantadores de viola.

Outra característica do cantador era seu senso de humor, traduzido nestes versos: “Admiro o vaga-lume/ Voando ao morrer do dia/ Desafiando a ciência/ Que o homem na Terra cria/ Com um pisca-pisca na bunda/ Sem precisar bateria.”

Otacílio Batista se orgulhava de ter cantado para todos os Presidentes da República, de Gaspar Dutra (1945) a FHC, e para o Papa João Paulo II, em Fortaleza, Ceará. Cantou em todo o Brasil e chegou a se apresentar em Cuba, Bolívia e Portugal.

O poeta faleceu em 05 de agosto de 2003, aos 79 anos, em João Pessoa, Paraíba.


O vídeo apresenta uma apresentação de Violeiros com o grupo Amaranto de Minas Gerais.
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