Há exatos cinquenta anos, no dia 02 de maio de 1960, as 10:00 horas da manhã, na câmara de gás do Presídio de San Quentin, Estado da Califórnia – EUA, era executado Caryl Whittier Chessman, desfecho final de um longo processo que, até hoje, suscita discussões, servindo de mote para um grande debate quanto à eficácia do instituto da pena de morte.
Chessman foi protagonista de um dos casos penais de maior repercussão mundial. O americano foi supostamente acusado de ser o famoso Bandido da Luz Vermelha, autor de crimes de estupro e roubo, ocorridos nas colinas de Hollywood que ganharam as páginas dos jornais americanos no final da década de 40.
O condenado sempre admitiu uma vida na marginalidade, mas negou até o fim a materialidade do crime, o que levou um grande debate sobre a legitimidade da pena aplicada. Até o maior de todos os penalistas do Brasil, Nelson Hungria, então Presidente do STF, suplicou pela comutação da pena, argumentando que o acusado teria sido vítima do excesso de rigor de um júri “composto quase exclusivamente de mulheres, tiroidianamente emotivas e aprioristicamente inclinadas à vingança dos imputados assaltos contra moças indefesas”.
No Ceará, ocorreram várias manifestações de solidariedade ao condenado. O escritor Edmilson Caminha, em seu livro “Lutar com Palavras”, conta que a Rádio Dragão do Mar chegou a fazer a campanha “Chessman não deve morrer”, que recebeu assinaturas de milhares de cearenses. O manifesto seria entregue ao presidente Eisenhower, em uma visita ao Ceará que acabou não acontecendo.
Outros fatos relacionados ao caso, também contados por Edmilson Caminha, se tornaram mote para o espírito humorístico dos cearenses: um vereador chegou ao extremo de lançar mensagem-moção - aprovada por unanimidade, diga-se de passagem - oferecendo-se ao governo americano para morrer no lugar do acusado. Jornalistas e intelectuais não perderam a piada e por meio de um abaixo-assinado imploraram ao presidente americano que aceitasse a proposta do vereador.
Outro episódio folclórico, ouvi de um velho jornalista do período: a rádio “Dragão do Mar” teria feito uma enquete sobre o caso Chessman. A pergunta era algo como “Chessman deve morrer?”. A nota cômica ficou por conta da divulgação do resultado: o responsável pela enquete, um radialista famoso da época, apresentou, de forma solene, o que pensavam os cearenses:
“Atenção Rádio Dragão do Mar! Direcione seus transmissores para Califórnia, Estados Unidos...”
Fez um suspense e bradou:
“Chessman não deve morrer”.
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