terça-feira, 7 de setembro de 2010

Miguel Gustavo e o Hino do Sesquicentenário da Independência do Brasil.

Há exatos 28 anos, o Brasil, em plena ditadura militar, comemorava o Sesquicentenário da Independência. O mote dos cento e cinqüenta anos do grito do Ipiranga não seria desperdiçado pela propaganda do poder, comandado pelo General Emílio Garrastazu Médici. 

Era tempo de propagandas ufanistas como: “Brasil Ame-o ou Deixe-o”, “Este é um país que vai prá frente” e a importância do sesquicentenário poderia ser mais uma alavanca para exacerbar o sentimento de patriotismo do brasileiro. Uma forma de desviar a atenção para as agressões aos Direitos Humanos, vilipendiados nos escuros porões da ditadura. 

No rastro deste acontecimento, vários eventos foram criados, inclusive um torneio de futebol, chamado Taça da Independência, com a participação de várias seleções, dentre elas, a seleção brasileira e a portuguesa.

Mas marcante mesmo - além da transferência dos restos mortais de D. Pedro I, de Portugal para o Brasil, por meio de negociações entre o governo brasileiro e o português - ficou um hino, criado especialmente para a comemoração, composto pelo carioca Miguel Gustavo, um criativo compositor, jornalista, poeta e radialista.

Miguel Gustavo Werneck de Souza Martins é autor da famosa música ”Pra Frente Brasil”, imortalizada na Copa do Mundo do México de 1970. A música foi vencedora de um concurso organizado pelos patrocinadores das transmissões dos jogos e se transformou, com certeza, na mais conhecida de todas as copas.

Miguel, embora sem formação musical, era muito versátil. Criou jingles de grande sucesso, como o das Casas Bahia, e muitas canções de sucessos gravadas por artistas de peso como: Elizeth Cardoso; Dircinha Batista; Jorge Veiga; Carminha Mascarenhas; Isaura Garcia; Araci de Almeida, dentre muitos outros.

Outra característica marcante do compositor era a sátira e o humor. É dele “Café Soçaite’, uma bem-humorada sátira ao colunismo social carioca dos anos cinqüenta. Também de destaca, na obra de Miguel, uma série de hilários sambas de breque gravados por Moreira da Silva e que até hoje são apreciados por brasileiros de todas as idades: O conto do pintor, O rei do gatilho, O último dos Moicanos, O sequestro de Ringo, O rei do cangaço e Morengueira contra 007.

Voltando ao Hino do Sesquicentenário da Independência, lembro que a música, cantada pelo grande cantor Miltinho, talvez pelo fenômeno da repetição exaustiva em rádios e televisões, caiu no gosto do público. Eu, por exemplo, tinha apenas doze anos e até hoje lembro a letra completa: “Marco extraordinário, Sesquicentenário da Independência. Potência de amor e paz. Este Brasil faz coisas. Que ninguém imagina que faz...”.

Miguel Gustavo faleceu em 22 de janeiro de 1972, curiosamente, no ano do Sesquicentenário, aos 50 anos de idade. No mesmo ano, em homenagem ao jornalista, a MPM propaganda lançou um disco brinde para o Natal com  músicas do compositor, dentre elas, uma  faixa com uma interpretação de Ângela Maria para “Brasil eu adoro você” e, ao final, o Hino do Sesquicentenário. Os comentários são do próprio Miguel Gustavo. Ouça.

Letra:
“Marco extraordinário
O Sesquicentenário da Independência!
Potência de amor e paz
Este Brasil faz coisas
Que ninguém imagina que faz.

É Dom Pedro I
É Dom Pedro do Grito
Esse grito de glória
Que a cor da história à vitória nos traz
Na mistura das raças
Na esperança que uniu
No imenso continente nossa gente, Brasil"
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3 comentários:

  1. Adorei me recordar desse Hino, pecado que hoje os estudantes nem sequer sabem da existência. Como era maravilhoso escutar essas músicas, portavam ao nosso coração respeito e amor ao nosso país.

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  2. Aconteceu de hoje eu me lembrar do tema sesquicentenário e a letra me vir inteira à cabeça! Eu tinha 12 anos, na época.
    Mas marcante mesmo foi a "Eu Te Amo Meu Brasil", apesar de ser utilizada como propaganda pelo regime militar.
    Hoje, sob regime democrático e com o país dando uma nova arrancada, ela bem que podia ser relançada, pois é linda!

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    1. Boa matéria. Somente a conta está errada: se passaram 38 anos e não 28 (já que a matéria é de 2010).

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