domingo, 6 de fevereiro de 2011

Haroldo Lobo. Um gigante do carnaval.

Na década de 50, o jornalista e compositor Fernando Lobo, pai de Edu Lobo, recebera um convite para trabalhar em uma emissora de TV em Belo Horizonte. Novo na cidade, Fernando foi com um amigo a um Cabaré Puxa-Faca, ambiente de mulheres bonitas e música afinada, como ele mesmo descreve. 

Em certo momento da noitada o Cabaretier anunciou a presença do ilustre artista. “El famoso compositor brasileño e durante todo tiempo solamente escutaremos música del notável Fernando Lobo".

As luzes se voltaram para o compositor e a orquestra entrou em ação. Para surpresa de Fernando, a primeira música não era dele, nem a segunda, nem a terceira... O fato era que a festa estava animada e só saia sambas e marchinhas de carnaval... Nenhuma do jornalista.

Finalmente, a platéia entrou em delírio e ecoou a marcha “Alá lá ô ô ô ô ô ô ô/ Mas que calor ô ô ô ô ô ô ô...”, as mulheres assediavam o famoso compositor aos gritos de “É o maior! É o maior!”. 
  
Em um misto de constrangimento, alegria e também medo, afinal, em um ambiente chamado Puxa-faca não era prudente confessar o engano, Fernando Lobo divertiu-se por toda a noite, lamentando apenas não ser Haroldo Lobo (foto), o verdadeiro autor dos sucessos cantados na inesquecível noite.
   
Comento: Fernando Lobo, contou a história de forma bem humorada. Sabia que as honras feitas ao colega com mesmo sobrenome eram merecidas. Haroldo Lobo (22/07/1910 – 20/07/1965) é considerado um dois maiores compositores do carnaval brasileiro. Tão grande quanto Braguinha e Lamartine Babo, os outros dois maiores expoentes da música de carnaval brasileira.

As músicas de Haroldo Lobo, na maioria, marchinhas e sambas, até hoje são cantadas pelos brasileiros. São obras de argumentos simples que vão desde temas do cotidiano como a “A mulher do leiteiro”; uma improvável travessia do Saara em “Ala-la-ô”,  parceria com Nássara, que criticava a falta de água na cidade; elogios saudosos a uma mulher submissa, no samba “Emília”, parceria com Wilson Batista e até uma alusão à volta do ex-ditador Getúlio Vargas ao poder, em “Retrato do Velho”. O dicionário Cravo Albim defende que esta marchinha só não foi apreciada por Vargas, que detestava ser chamado de Velho. 

Destacam-se ainda, na obra de Haroldo Lobo, sucessos como “Coitado do Edgar, com Benedito Lacerda; “Eu quero é rosetar”e “Índio quer apito”, ambas, em parceria com Milton Oliveira, dentre tantas outras marchinhas, geralmente, marcadas pela menção a fatos do cotidiano. 

O compositor reinou no carnaval durante 30 anos. Gravar uma música sua era certeza de sucesso. Lançou composições, praticamente, em todos os carnavais compreendidos no período de 1937 até a sua morte. Foram 453 músicas gravadas, das quais, 338 feitas especialmente para o Carnaval. O próprio compositor dava a formula para o êxito das suas marchas: os versos devem ser simples e, tanto quanto possível, explorar e repetir as palavras chaves e os sons onomatopaicos.

O samba "Tristeza", em parceria com Niltinho, foi uma das suas últimas músicas. O sucesso, composto em 1965, explodiu no carnaval de 1966 e logo extrapolou as fronteiras brasileiras, se transformando em um dos sambas mais executados no exterior. Lamentavelmente, o compositor não pode testemunhar o sucesso do seu último samba, gravado pela primeira vez por Ari Cordovil. O mestre dos carnavais morreu em 1965, vítima de ataque cardíaco, uma semana antes da gravação de Cordovil.

Niltinho, o parceiro de Haroldo Lobo na música Tristeza, um respeitado compositor da Escola de Samba Imperatriz Leopoldinense, conta que a música inicialmente tinha 18 versos, Haroldo, sabiamente, achou por bem reduzir para oito. Niltinho, por sinal, incorporou o título da música famosa ao seu nome artístico e hoje é conhecido como Niltinho Tristeza.

Ouça “Tristeza”, na bela voz de Agostinho dos Santos, uma das dezenas de regravações da música e, logo após, a marchinha “Que passo é esse, Adolfo?”, parceria com Roberto Roberti,gravada em 1943, uma sátira, bem ao estilo Haroldo Lobo, que ridicularizava o “passo de ganso” dos soldados de Adolfo Hitler.




Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...

Nenhum comentário:

Postar um comentário