domingo, 18 de agosto de 2013

Belos Poemas que Viraram Músicas. Brisa – Manuel Bandeira

Brisa, por definição, é um vento próximo da superfície do mar. Esse vento agradável é muito comum no nordeste brasileiro e que ainda hoje, em pequenas cidades do nordeste, leva famílias para calçadas para desfrutar do agradável momento de frescor noturno, tudo em meio a prosas intermináveis.

Brisa também é um curto e belo poema do pernambucano Manuel Bandeira (Recife, 19 de abril de 1886 — Rio de Janeiro, 13 de outubro de 1968), publicado em 1948, no livro Belo, Belo:


                                     Brisa
Vamos viver no Nordeste, Anarina
Deixarei aqui meus amigos, meus livros, minhas riquezas, minha vergonha.
Deixarás aqui tua filha, tua avó, teu marido, teu amante.
Aqui faz muito calor.
No Nordeste faz calor também. Mas lá tem brisa:
Vamos viver de brisa, Anarina.

A respeito do poema, o também poeta pernambucano João Cabral de Melo Neto, perguntado o que o assustava no Rio de Janeiro, respondeu, citando a obra de Bandeira como exemplo:

As distâncias, o movimento, o tráfego e o calor. É aquele calor desagradável… O calor aqui no Rio é abafado. O de Pernambuco é um calor ao ar livre. Até há um poema de Manuel Bandeira: “Vamos viver de brisa”. Faz calor no Nordeste, mas lá existe brisa. O calor do Rio é um calor sem brisa”.

As palavras de João Cabral talvez ajudem a entender o pensamento de Bandeira. Entretanto, fazer uma análise de um poema é sempre subjetivo. Vejo na obra do poeta uma busca pelas coisas simples da vida, a renúncia à agitação da cidade grande e ao excesso de responsabilidade. No poema, o poeta propõe uma volta às suas origens, ao torrão natal, uma saudosa homenagem à região onde passou parte da sua infância, tantas vezes relatadas em suas crônicas e poemas.

A genialidade de Bandeira dispensa as rimas, a rigor, inexistente em "Brisa". A aliteração provoca sonoridade nas palavras e se basta para perceber a busca pela vida tranquila, de forma desprendida. A sensação de liberdade extrema sentida com a lufada litorânea no rosto é traduzida com o uso de uma expressão popular no último verso “Vamos viver de brisa”- uma utópica vida ao Deus-dará, aspirada e nunca vivida por tantos.

Quanto ao nome Anarina, não tenho maiores referências, talvez apenas uma licença poética, um nome criado em razão da estética do poema...Há que sugira uma junção de nomes: Ana Carolina? Ana Catarina? O site http://www.significado.origem.nom.br, sem entrar em muitos detalhes, informa que o nome Anarina é de origem hebraica e significa “O Senhor Prometestes".

Pela musicalidade da sua obra, Manuel Bandeira é um dos poetas preferidos dos compositores brasileiros - talvez seja o escritor

com mais poemas musicados no Brasil. Com Brisa não foi diferente. O poema foi musicado pelo compositor Paquito e gravado, em 1996, por Maria Bethânia, no álbum “Âmbar”, produzido Guto Graça Mello. O baiano Paquito, em parceria com Jota Velloso, produziu dois respeitados discos de samba baiano: Diplomacia, de Batatinha que venceu o Prêmio Sharp de melhor disco de samba de 1999, que contou, além de Batatinha, com a participação de Chico Buarque, Caetano Veloso, Gilberto Gil e Maria Bethânia. O Outro disco, Humanenochum, de Riachão foi indicado para o Grammy latino de 2001 também com convidados ilustres como Caetano Veloso, Tom Zé, Armandinho, Carlinhos Brown e Dona Ivone Lara.

Ouça a música.



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