Nos final dos anos sessenta, início dos setenta, a voz suave e inconfundível de Dóris Monteiro era bastante comum nas vitrolas dos brasileiros. Com efeito, ouvir Dóris nos dava a certeza que samba “é a melhor maneira de se conversar”.“Mudando de Conversa”, a música de Maurício Tapajós e Hermínio Bello de Carvalho, magistralmente interpretada pela cantora, nos remete a saudade dos velhos amigos, das rodas de conversas nos bares e botecos da cidade, sempre ao som de um bom violão. Bons tempos, bons momentos que o próprio tempo, inexorável, se encarrega de desfazer.
E por falar em saudade... No segundo vídeo, Dóris fala sobre seus amigos, Billy Blanco, Dick Farney, Lúcio Alves, Nora Ney e João Goulart. No último vídeo, ainda nos tempos da televisão em preto e branco, uma apresentação da cantora, interpretando “Mocinho Bonito”, composição do amigo Billy Blanco.
"Bom mesmo é ir a luta com determinação, abraçar a vida e viver com paixão, perder com classe e vencer com ousadia, porque o mundo pertence a quem se atreve e a vida é muito para ser insignificante" (Charles Chaplin)
“Na época da ditadura eles nunca pediam nada. Eles mandavam. O medo pairava porque nós ouvíamos os papos que sumiu fulano, desapareceu cicrano! Os artistas procuravam tomar precauções.”
(Ravel)
No início dos anos 70, a dupla Dom e Ravel provocou a ira dos opositores da ditadura militar instaurada no Brasil ao lançar o Hit “Eu Te Amo Meu Brasil” música que ficaria conhecida como um verdadeiro hino da ditadura militar. Eram tempos de chumbo, a seleção de futebol era tri-campeã mundial e o país crescia a olhos vistos. Era o chamado Milagre Econômico, fruto da facilidade de financiamentos externos. O PIB brasileiro crescia a uma taxa impressionante de quase 12% ao ano. Já naquele tempo, o Ministro Delfin Neto prometia dividir a renda, mas primeiro teria que deixar o “bolo crescer”, o que nunca aconteceu, para desespero dos truculentos generais de plantão... Os brasileiros não sabiam o que estava por vir.
Esta era a parte visível do início dos anos setenta. Contrastando com o otimismo do momento favorável da macroeconomia, práticas deploráveis aconteciam nas escuridões dos porões da ditadura: estudantes, jornalistas, políticos, líderes sindicais e outros representantes da sociedade, opositores do regime de exceção, eram barbaramente torturados e até mesmos assassinados. Não havia distinção entre aqueles que optaram pela luta armada e os que usavam a palavra como arma. Foi criado o slogan “Brasil, Ame-o ou Deixei-o!”, porém, diante do acirramento da repressão, muitos, mesmo sem deixar de amar o país, optaram pela segurança do exílio voluntário. O governo retrucou com outra frase: "Quem não vive para servir ao Brasil, não serve para viver no Brasil" o que dá uma noção do maniqueísmo oficial.
Todos sabemos os desdobramentos deste período negro da história: no rastro da crise do petróleo, decorrente dos conflitos do oriente médio, o país entrou em uma profunda recessão econômica, a liquidez acabou e os juros dos empréstimos subiram levando a dívida externa às alturas. A crise na qual foi jogado o país duraria décadas para ser sanada. Alguns anos depois veio a hiperinflação e os brasileiros passaram a ganhar milhões - apenas nos seus contracheques. Salários falsamente milionários que eram pulverizados em poucos dias devido à desvalorização da moeda. É verdade! Sofri isso na pele. Meu contracheque era apresentado na casa dos milhões, que mal davam para chegar ao fim do mês.
No início dos anos setenta eu era garoto e custava a acreditar que aquele aparente inofensivo general risonho e simpático que gostava de futebol e assistia jogos do Grêmio de Porto Alegre seria protagonista do período considerado o mais violento da ditadura. Até o dia em que, num almoço na casa de um colega, testemunhei um fato que me marcou: o menino, provavelmente repetindo o que ouvira de um adulto, inocentemente chamou o presidente de “Garrafa Azul M...”. Nem eu nem o garoto tínhamos a menor noção de política, mas a reação da mãe dele para um comentário hoje tão inofensivo foi de pânico imediato. Com os olhos arregalados, a senhora o repreendeu e o admoestou a nunca falar aquilo em público. Percebi, naquele dia, o pavor que provocava uma ditadura.
Voltando a Dom e Ravel, nos tempos em que frases como “Ninguém Segura este país” eram comuns nas propagandas oficiais, a dupla foi duramente criticada por suas canções consideradas alienadas, para muitos, completamente alinhadas com a estratégia de propaganda do poder: vender a imagem de um país de jovens, portanto com um futuro promissor, “Um país que vai prá frente”, frase de outra peça publicitária do governo. O marketing oficial também queria passar a imagem de uma nação limpa e próxima do desenvolvimento. Quem tem mais de cinquenta anos, certamente se lembrará do simpático personagem Sujismundo, que servia de mote para o bordão “Povo limpo é povo desenvolvido”. Mas, para ter um povo desenvolvido era necessário reduzir o enorme índice de analfabetismo. Para tanto, foi criado o MOBRAL – Movimento Brasileiro pela Alfabetização e Dom e Ravel foram, novamente, associados ao poder com a música “Você também é responsável”, escolhida como tema do movimento pelo ex-ministro da Educação, General Jarbas Passarinho. Em entrevista ao site http://www.censuramusical.com Ravel negou que a canção tenha sido criada para tal e insistiu que nunca fez músicas encomendadas: “Há alguns comentários que a música 'Você também é responsável' foi feita para o MOBRAL, mas nunca fizemos músicas encomendadas pra ninguém, não! [...].
É fato, a canção, de forte apelo emocional, já havia sido gravada em 1969, portanto, não foi criada especificamente para o Mobral. Entretanto, transformou-se em uma espécie de hino do movimento, o que reforçou, para muitos, a percepção de alinhamento da dupla com o regime militar. Também é fato que a obra dos dois irmãos cearenses, intencionalmente ou não, se adequava à onda patriótica que pretendia impor os poderosos de coturno e, apesar do sucesso inicial, custaria caro aos dois cantores nascidos na pequena Itaiçaba, cidade do interior do Ceará. Veio o pior. Os cantores estigmatizados pela esquerda como “A Dupla da Ditadura”, curiosamente, caiu em desgraça com os militares e seus seguidores da direita ao lançar, em 1974, a música “Animais Irracionais” que falava das injustiças sociais – a obra foi censurada pelos militares - talvez já não fossem mais conveniente para o novo momento de pessimismo econômico que surgia. Sobre o assunto Ravel declarou:
“Eu que já era perseguido pela esquerda que dizia que eu era engajado da direita, passei a ser perseguido pela direita também”. Ravel confessou que a música foi feita para pararem de chamá-los de “puxa-sacos” do governo.
A dupla, aos poucos, caiu no ostracismo, mas nunca deixou a mente daqueles que viveram os momentos duros da ditadura. Até hoje, os dois são fonte de fortes discussões entre as duas correntes políticas. Eustáquio Gomes de Farias, o Dom, faleceu em dezembro de 2000, em decorrência de um câncer de estômago. Eduardo Gomes de Faria, o Ravel, faleceu na última quinta-feira, 16 de junho de 2011, aos 64 anos, de um ataque cardíaco. Morreu negando seu alinhamento com o poder. Ravel afirmava que suas músicas, na verdade, preenchiam uma lacuna de uma tendência mundial da época: a “música com uma temática construtiva”. Insistiu que foram usados pelos militares e somente não se opuseram à suposta apropriação política por mero temor das conseqüências.Uma frase reflete a revolta de Ravel quanto o que considera patrulhamento dos dois lados:
“Eu sofri exílio no meu próprio país e nunca fui remunerado pelo governo”.
Ouça alguns sucessos da dupla e faça a sua avaliação.Em outro vídeo, com incorporação desativada, Sílvio Santo confessa que utilizou a dupla como parceiro na sua busca pela conquista do seu canal de TV junto ao governo militar (acesse em http://youtu.be/J3CNxsKmdx8).
Este interessante vídeo, decididamente, merece entrar na galeria de “Versões My Way”. Uma apresentação rara da cantora francesa Mireille Mathieu cantando junto com Claude François, o autor da versão original de “My Way”, na França chamada de Comme D’habitude.
Claude François faleceu precocemente aos 39 anos, vítima de choque elétrico. Ver mais aqui.
"Cada idade tem suas inclinações, mas o homem é sempre o mesmo. Aos dez anos, é levado por doces; aos 20, por uma amante; aos 30, pelo prazer; aos 40, pela ambição; aos 50, pela avareza."
Para quem não conhece a obra de Heckel Tavares, disponibilizo quatro músicas do compositor alagoano: Suçuarana, Guacyra, Azulão e Leilão. Para saber mais sobre o autor de Penas do Tiê entre aqui.
“ A academia não convida. A gente é que tem de candidatar-se, solicitar votos pessoalmente, arranjar pistolões. Há gente que não dá para isso. Eu também não”
(Mário Quintana)
Para surpresa de muitos, a Academia Brasileira de Letras escolheu o jornalista Merval Pereira como seu novo integrante. O comentarista político vai ocupar o lugar do respeitado Moacir Scliar. A Cadeira a ser ocupada pelo novo “imortal”, a nº 31, foi fundada por Guimarães Junior, tinha como patrono Pedro Luís, e foi sucessivamente ocupada por João Ribeiro, Paulo Setúbal, Cassiano Ricardo, José Cândido de Carvalho, Geraldo França de Lima e o recentemente falecido Moacyr Scliar.
Difícil mesmo é entender a lógica de escolha dos nossos imortais. Talento, com certeza, não é um requisito primordial. A instituição é a mesma que rejeitou, por três vezes, a postulação do grande Mário Quintana. (ver post sobre o assunto aqui).
No seu primeiro disco, intitulado "Manera Fru Fru", o cantor cearense Raimundo Fagner gravou a música Penas do Tiê, tendo como convidada especial a cantora Nara Leão. A singela composição viria trazer uma série de transtornos para o cantor de Orós, que chegou a enfrentar um longo processo por plágio. A canção, na verdade, é do alagoano Heckel Tavares (foto a esquerda) em parceria com Nair Mesquita e foi editada em 1928. Originalmente, se chamava ”Você”.
Em entrevistas, o cantor cearense se defendeu da acusação alegando que agira de boa-fé, recebera informação de que a obra fazia parte do folclore e, acreditando tratar-se domínio público, teria feito algumas adaptações. O filho de Tavares não aceitou as explicações e manteve a ação por plágio, com pedido de uma considerável indenização.
Autor da música origem da lide, Heckel Tavares era um respeitado maestro, compositor, pianista, arranjador e folclorista. Como tantos outros grandes músicos brasileiros, andava esquecido. Teve sua fase áurea no primeiro quarto do século com composições de reconhecida qualidade, transitando entre o erudito e o popular. Contou com grandes parceiros, dentre eles, Luiz Peixoto, o autor da terceira e definitiva letra do clássico Ai, Ioiô (Linda Flor).
O interessante, nesta história toda, é que, apesar de ter mais de 150 composições, o maestro, guardadas as devidas proporções, também foi noticia de uma suposta apropriação indevida. Trata-se da música “Casa de Caboclo”, uma canção sertaneja que se notabilizou por popularizar a expressão “Um é pouco, dois é bom, três é demais”, atribuída ao alagoano em parceria com Luiz Peixoto. A lendária maestrina Chiquinha Gonzaga, segundo a pesquisadora Edinha Diniz, em seu livro “Chiquinha Gonzaga – Uma história de Vida”, reclamou a autoria de “Casa de Caboclo” em uma ata da reunião da diretoria da SBAT – Sociedade Brasileira de Autores Teatrais, ocorrida em 8 de outubro de 1928. Com os seguintes argumentos:
“[...] Passando-se à ordem do Dia e interesses sociais, pediu a palavra d. Francisca Gonzaga, para reclamar sobre suas composições musicais que estão sendo impressas e gravadas em discos, sob autoria de diversos senhores, como por exemplo, a canção “Fogo, foguinho”, da opereta Juriti, gravada em disco Odeon, como sendo da lavra de Américo Giacomini; a canção “Bela rosa, da peça “Não venhas”, representada em 1904, no Teatro Apolo, impressa pela Casa Vieira machado, com o título de “Casa de caboclo”, como sendo de autoria do Sr. Heckel Tavares, e também gravada pela Odeon [...]. A oradora solicita providências da Sbat para que cesse de uma vez essa apropriação indébita e prejudicial aos seus interesses e de seu nome”.
Chiquinha Gonzaga é reconhecida como uma das pioneiras na luta pelos direitos autorais no Brasil e, devido ao ainda incipiente instituto de direito autorais da época, era vítima de constantes plágios, não só de músicas isoladas, mas até de peças inteiras, como é o caso de “Juriti”, apresentado, em 1925, na Bahia com o nome de Juraci.Na ata da SBAT, curiosamente, a grande maestrina não citou Luiz Peixoto, o parceiro de Heckel Tavares em “Casa de Caboclo". Peixoto era um velho companheiro e admirador da pioneira maestrina. Com ela, montou várias operetas, e revistas, a exemplo da histórica burleta “Forrobodó”.
Não cabe aqui fazer juízo de valor sobre os motivos que levaram a dupla a compor a canção e provocar a ira da maestrina e, até mesmo, se a denúncia da autora de "Lua Branca" é procedente, mas me arrisco em algumas considerações. O fato é que o talento musical, tanto de Heckel quanto de Peixoto, é inquestionável, comprovado por um vasto repertório de grandes canções. Heckel, reconhecidamente, era um pesquisador apaixonado por temas regionais. O compositor foi criado em Maceió e, nas palavras do Dicionário Cravo Albim, “convivendo com a música tradicional dos repentistas, cantadores de desafios, reisados e congadas, que teriam forte influência em sua música”. Portanto, é difícil imaginar um plágio voluntário de um profundo estudioso. A proximidade com “Chiquinha da Polca”, principalmente por parte de Peixoto, talvez tenha influenciados a dupla, já há muito tempo envolvida com peças e teatros de revistas. Um reforço a esta tese é o registro na Biografia de Luiz Peixoto, escrita por Lysias Enio e Fernando Vieira. No livro “Luiz Peixoto – Pelo buraco da fechadura”, os autores informam , de forma instigante, que a parceria musical Heckel-Peixoto começou em 1918 e que as primeiras composições da dupla “nasceram nos libretos das revistas musicadas por Chiquinha Gonzaga, José Nunes, Júlio Cristobal e outros”, sem, entretanto, se referir de forma explícita à acusação da pianista, o que, talvez, reforce uma possível influência recebida, mas não deixa claro o rótulo de plágio.
Um artigo publicado no site Cifrantiga (site https://cifrantiga. wordpress.com/category/hekel-tavares) também ameniza a acusação, dando a seguinte abordagem:
“[...] Como acontece muitas vezes a músicas de sucesso, houve, à época do lançamento, quem considerasse “Casa de Caboclo” plágio de um tema de Chiquinha Gonzaga, levando a discussão aos jornais. Daí a informação que figura em algumas de suas regravações: ‘Canção baseada em motivos de Chiquinha Gonzaga'”.
Rosa Nepomuceno, no seu livro “Música Caipira: da roça ao rodeio”, embora sem se aprofundar, também se refere ao fato, indo um pouco além do termo “Canção baseada sobre motivos de Chiquinha Gonzaga”, acrescentando que tais motivos seriam trechos da modinha "Bela Rosa". Vejamos o que diz a escritora:
“Heckel Tavares vivia na cidade maravilhosa e compôs, nessa época, alguns de seus maiores sucessos:” Sussuarana , em 1927, e no ano seguinte “Casa de Caboclo” com letras do poeta niteroiense Luis Peixoto [...]. A última canção, sobre motivos da maestrina Chiquinha Gonzaga (trechos de sua modinha ‘Bela Rosa’ [“...]” .
O certo, nesta história toda, é que Casa de Caboclo tornou-se um grande sucesso na voz de Gastão Formenti em 1928 e foi regravada várias vezes por muita gente boa: Inezita Barroso, Paulo Tapajós, Carlos Galhardo, Renato Teixeira, Luiz Gonzaga e até pelo ex-jogador de futebol Sócrates. A música inspirou uma verdadeira febre de canções com argumentos sertanejos no final dos anos 20 e serviu, posteriormente, de modelo para outros grandes sucessos, inaugurando uma sucessão de singelas canções sertanejas baseadas em comoventes tragédias pessoais. Quem não se lembra de “Chico Mineiro e Menino da Porteira”?
Por sua vez, o caso do cantor Fagner, independentemente dos motivos que o levou a gravar “Penas do Tiê”, restou um evidente benefício para a música brasileira: mesmo que involuntariamente, a polêmica ajudou a resgatar a obra de Heckel Tavares. Clássicos com Suçuarana, Guacyra, Azulão, Leilão, dentre outros, voltaram a ser gravados, saindo do restrito âmbito dos tenores e sopranos de óperas. Um do justo reconhecimento a um dos grandes nomes da música do país.
Ouça a música na versão de Paulo Tapajós.
Nota: Não conhece as músicas de Heckel Tavares? Disponibilizei uma amostra da composições do alagoano no post “A obra de Heckel Tavares” (aqui). Você vai de deliciar com quatro das mais de cento e cinquenta músicas do compositor: Suçuarana, Guacyra, Azulão e Leilão.
Sábado passado, em um agradável clima de chorinho e feijoada, o jornalista Eliezer Rodrigues lançou mais uma edição da sua prestigiada Revista Singular. O evento ocorreu no agradável e revitalizado Passeio Público, no centro histórico de Fortaleza.
Estiveram presentes vários colaboradores do veículo, dentre eles: Cibele Marinho, Suelen Valentim, Angela Marinho, Pepo Melo, Maurição, Sérgio Fujihara, Ana Miranda e, ainda, meus velhos amigos Fernando Montenegro e Ana Guilhermina, que lá passaram para prestigiar o evento.
Tive o prazer de participar, desta que já é a trigésima edição, com mais um artigo sobre curiosidades da nossa Música Popular Brasileira. O tema é uma interessante passagem sobre a gênese do Samba “É luxo só”, que envolveu o compositores Jaime Ovalle e Ary Barroso , o escritor Fernando Sabino e a cantora Elizete Cardoso”. Afinal, samba tem que ter Telecoteco.
Agora você pode ler todas as matérias diretamente na versão eletrônica da revista disponibilizada do Blog do jornalista. O conteúdo, como sempre, está muito bom. Clique aqui para conferir.
O quarteto "Il Divo", ideia do inglês Simon Cowell, é formado por bons cantores de ópera que, ao optar por dar nova roupagem para musicas consagradas, logo se transformou em sucesso mundial. Desta forma, o grupo deixou sua marca na história do clássico "My Way," ou “A Mi Manera”, título da versão em espanhol.
O suíço Urs Bühler, o norte-americano David Miller, o espanhol Carlos Marín e o francês Sébastien Izambard, todos, a exceção do último, músicos de formação clássica, fizeram ótimo trabalho e, portanto, merecem estar na galeria dos bons intérpretes de “My Way”.
Confira o desempenho do grupo, cujo vídeo, até a presente data, já contava com quase 1.500.000 acessos.
Esta versão para criação da Música "O X do problema" está em alguns livros de biografia de Noel Rosa. Fala-se que, em 1935, O “Poeta da Vila” teria se encontrado casualmente com Ema D’Ávilla, irmã do comediante Valter D’Ávilla. A gaucha, em início de carreira, estava preocupado: iria participar de uma revista chamada "Rio Foles" de Jardel Jércolis e Geisa Bóscoli. A peça iria homenagear bairros do Rio de Janeiro e caberia a futura comediante cantar o bairro do Estácio de Sá. A atriz não escondia sua aflição, pois não tinha uma música inédita que falasse do bairro.
Parece não ter sido difícil para Noel. Admirador do bairro onde recebera influências musicais dos chamados Bambas do Estácio, - Ismael Silva, Bide, Brancura, Nilton Bastos, dentre eles – em pouco tempo, Noel retornou à colega, com a música “O X do problema”.Humilde, ainda pediu desculpas, por não ter feito algo melhor devido ao pouco tempo que teve para compor a famosa canção: apenas um dia.
Ouça a música na voz da saudosa Aracy de Almeida, uma das duas intérpretes preferidas do “Filósofo do Samba” - a outra era Marília Batista. O samba é complementado pela talentosa cantora e violonista Camila Costa.
Já citei, aqui, neste blog, vários casos interessantes de grandes sucessos que foram desprezados por cantores famosos e gravados por outros com maior senso de oportunidade.
Com efeito, a história da MPB está cheia desses exemplos. O cantor Sílvio Caldas poderia ter engrossado essa estatística e amargado a perda de um dos seus maiores sucessos, não fosse a obstinação do compósito Newton Teixeira (foto). O grande seresteiro não se mostrava muito interessado em gravar “Deusa da Minha Rua”, música do próprio Teixeira e letra de Jorge Faraj, e só cedeu, segundo conta o musicólogo Jairo Severiano, depois de praticamente ser arrastando do Café Nice, por Newton ,para gravar nos estúdios da Victor.
O fato aconteceu em 1939. A insistência do autor da música rendeu grandes frutos a Sílvio Caldas. “Deusa da Minha Rua” transformou-se rapidamente em um dos maiores sucessos da MPB, foi regravada dezenas de vezes por cantores e cantoras famosas e é cantada até os dias de hoje pelos amantes da boa música.
Tem gosto para tudo quando se trata de "My Way." As versões vão do inglês ao japonês. Em ritmo de rock até ao sertanejo de Zezé de Camargo.
Desta vez, a versão que apresento é bastante polêmica. Trata-se de uma maluquice do falecido cantor britânico Sid Vicious. Sid é considerado por fãs como o maior ícone do punk rock. Para muitos, apenas um pseudo cantor, devido às suas interpretações desafinadas. O roqueiro teve uma carreira curta e conturbada. John Simon Ritchie, seu nome verdadeiro, integrou o grupo punk Sex Pistol. Chegou a ser preso, devido ao suposto assassinato da namorada Nancy Spungen, em um caso coberto de especulações e até hoje não esclarecido.
Previsível, até para o próprio cantor, sua morte veio cedo, aos 21 anos, em 2 de fevereiro de 1979, vítima de uma overdose de heroína, poucos meses após a morte da namorada. A performance irônica e agressiva do jovem rebelde em "My Way" é considerada uma aberração, mas há quem goste: até a presente data já contava com quase seis milhões de acessos.
Já comentei, neste blog, uma considerável quantidade de músicas que foram inicialmente recusadas por cantores famosos e que outros artistas, com maior senso de oportunidade, gravaram e obtiveram grandes sucessos. "Canção de Amor", um belo e melancólico samba canção composto por Chocolate (foto esquerda) ,em parceria com Elano de Paula, (foto à direita) gravado em 1950, é mais um exemplo de obra rejeitada que se transformaria em grande sucesso, sendo responsável em alavancar a carreira de uma grande cantora.
O samba, conta Chocolate, foi oferecido a Lúcio Alves que, de acordo com o compositor, “passou três meses e não deu nem pelota” e continuou: “até que uma cantora que trabalhava na Guanabara, Elizete Cardoso, começou a pegar no meu pé ‘Eu quero o samba... Eu quero o samba... ’ Eu dei o samba para ela... tinha que ser dela mesmo”. Desta forma, a música que foi recusada por Lúcio Alves, ironicamente, ficou imortalizada na voz da Divina. Hoje, faz parte do cancioneiro brasileiro. A música chegou a ser tema da Minissérie JK, da Rede Globo.
Comento: Outra curiosidade da canção: Elano de Paula, o autor da letra, é irmão mais velho do comediante Chico Anísio. Já o autor da música, Dorival Silva, o Chocolate, não era músico por formação, por este motivo, sua extrema sensibilidade musical era externada por meio da imitação do som de um suposto instrumento pessoal, conforme contou Chico Anísio: “... Chocolate não tocava nenhum instrumento, ele tocava poió, ele dizia: Popoió, poió, poió, pó poió...”. Desta forma, compôs vários sucessos, como o samba-canção "Vida de bailarina", com Américo Seixas, gravada por Ângela Maria e também por Elis Regina, “Hino ao Músico”, com letra reivindicada por Chico Anísio e "Triste melodia", parceria com Di Veras, gravado por Cauby Peixoto, dentre tantas outras. “Hino ao Músico” ficaria famosa ao se tornar prefixo do programa Chico Anísio Show.
Chocolate, falecido em 1989, também era comediante e atuou por muitos anos na Praça da Alegria, Elano Viana de Oliveira Paula é cearense de Maranguape, é escritor e um bem sucedido empresário. Mora, atualmente, em Fortaleza.
Hoje é dia de ouvir “Romaria”, “Frete”, "Amora", "Casinha de Campo", "Amizade Sincera" e tantas outras belas canções sertanejas, na voz suave de Renato Teixeira. O cantor, que já está com mais de quarenta anos de estrada, se apresentará, desta vez, acompanhado dos filhos Chico Teixeira ,no violão de doze cordas e João Lavraz, no baixo. O evento faz parte da programação cultural do BNB CLUBE e começa as 21:00h. Quem abre o show é o cantor, compositor, poeta e repentista cearense Rozamato.
A noite promete. Já comprei meu ingresso.
Informações do Evento.
SHOW RENATO TEIXEIRA E ROZAMATO
Local: BNB Clube (Avenida Santos Dumont, 3646)
Data: hoje, 02 de abril de 2011
Horário: 21 horas
Ingresso: R$ 18 (meia/sócio) e R$ 36 (inteira)
Mais informações: 4006 7200.