Pesquei esse texto do perfil do Facebook do médico Carlos Juaçaba. Trata-se de uma pequena biografia do pianista cearense, natural de Aracati, Jacques Klein. Carlos Juaçaba, por sinal, constantemente nos brinda, em sua pagina do Facebook, com publicações do seu vasto acervo de fotografias antigas, a maioria da nossa querida capital cearense. Tempo de uma Fortaleza ainda descalça, sem a imensidão de arranha-céus que acinzentam nossa ainda bela cidade. Confira, ao final do texto, três vídeos com o desempenho de Jacques Klein.
“JACQUES KLEIN ,Nascido em Aracati, no Ceará,(10 de julho de 1930) foi no Rio de Janeiro que viveu plenamente a sua carreira e a sua vida. Desde muito cedo, manifestou seu gosto pela música, e, até os dezoito anos, dedicou-se ao jazz, uma de suas grandes paixões, inclusive fazendo algumas gravações no gênero.
Foi para os Estados Unidos estudar música clássica, mas logo conheceu o célebre Art Tatum, que ficou muito impressionado ao ouvir Jacques tocar o seu amado jazz em Nova York. Apesar de ter sido convidado para tocar na banda do grande jazzista americano, seguiu sua verdadeira vocação - a música clássica. Seguiu depois para a Áustria, onde foi aluno do célebre professor Bruno Seidhofer, na Academia de Música de Viena, mas foi exatamente em 1953 que o artista começou sua grande carreira ao conquistar o 1º lugar no Concurso Internacional de Genebra, que era na época considerado o mais importante concurso no mundo.
Klein era um músico admirado por todos, e em todos os continentes. Tinha um toque lindo e um som dourado, difícil de se encontrar. Seus concertos eram de sonhos, célebres e iluminados. Uma vez, tocando a Sonata de J.Brahms nº3, a luz da Sala Cecília Meireles apagou e Jacques continuou tocando no escuro para delírio de seus ouvintes. Claro que foi ovacionado quando acabou a obra, já com a luz acesa. Também ficou conhecido pelo seu ciclo das Sonatas de Beethoven, tocando as 32, também na Sala. Foi solista das mais importantes orquestras do mundo, assim como teve o duo com o grande violinista italiano Salvatore Accardo, que, por várias vezes, deslumbrou o Théâtre des Champs Elysées, em Paris. Grande professor de piano, tem como seu mais importante discípulo o pianista Arnaldo Cohen. Na parte burocrática, foi diretor da Sala Cecília Meireles e fez parte da direção da Orquestra Sinfônica Brasileira.faleceu no dia 24 de outubro de 1982,vitima de cancer.”
"O trabalho é anterior ao capital e independente dele. O capital é o fruto do trabalho e não existiria se o trabalho não tivesse existido antes dele. O trabalho é superior ao capital e merece uma consideração mais elevada.
No rastro das manifestações populares que se espalham por todo o país, o cantor Tom Zé lançou, em parceria com Marcelo Segreto, o seu entendimento sobre o movimento que surpreende políticos, sociólogos e outros analistas por esse Brasil afora. Trata-se música "Povo Novo”, feita bem ao estilo das músicas de protesto, tão comuns na década se sessenta e setenta, durante o regime militar.
O cantor confessou que as estrofes como: “quero gritar na próxima esquina” e “olha, menino, que a direita já se azeita” foram inspiradas em textos da socióloga Marília Moscou sobre as manifestações de rua.
Ouça a música.
:
"POVO NOVO"
Letra:
"Quero gritar na
Próxima esquina
Olha a menina
O que gritar ah, oh
A minha dor está na rua
Ainda crua
Em ato um tanto beato, mas
Calar a boca, nunca mais! (bis)
O povo novo quer muito mais
Do que desfile pela paz
Mas
Quer muito mais
Quero gritar na
Próxima esquina
Olha a menina
O que gritar ah, oh
Olha menino, que a direita
Já se azeita,
Querendo entrar na receita, mas
De gororoba, nunca mais (bis)
Já me deu azia, me deu gastura
Essa politicaradura
Dura,
Que rapadura!"
A música “Enquanto engomo a calça”, do cantor e compositor cearense Ednardo, em parceria com o piauiense Climério, é mais uma dessas obras que foram inspiradas em fatos banais do cotidiano dos seus autores. Sempre me perguntei de onde o cearense tirara a ideia para contar sua “história bem curtinha, fácil de cantar” e o pior, enquanto engomava as calças– engomar, no nordeste, é passar a roupa a ferro.
Quem nos socorreu foi o próprio artista, em uma entrevista ao jornalista Francisco Pinheiro, no programa Sarau, em homenagem aos quarenta anos de carreira do cantor. O autor de “Pavão Misterioso” contou que na década de setenta, em companhia dos seus amigos, os compositores Dominguinhos e Climério, lançaram-se a um desafio: qual dos três faria mais músicas em um espaço de um mês.
Não sabemos quem foi o vencedor da aposta - Ednardo, talvez por elegância ou por esquecimento, afirma que o resultado foi um improvável empate, mas lembra de que, encerrado o desafio, resolveu convidar os dois amigos para tomar uma “cervejinha” na praia. Antes de sair, sua companheira percebeu que a calça do cantor estava muito amassada e comentou: “Ednardo, tua calça está muito amassada, me deixe engomá-la”.
O cearense declarou que aproveitou mote e convidou Climério para compor uma música comentando: ”Climério, não repare não, mas enquanto ela engoma a calça vamos fazer mais uma música”. Foi instantâneo, correram para o violão e compuseram, em poucos minutos, um dos seus grandes sucessos. Depois foram para seu programa praiano, sem calça amarrotada e com mais uma composição no seu brilhante acervo.
Ouça a música gravada pelo próprio autor em 1979.
Letra:
Arrepare não, mas enquanto engoma a calça eu vou lhe contar
Uma história bem curtinha fácil de cantar
Porque cantar parece com não morrer
É igual a não se esquecer (2x)
Que a vida é que tem razão
Esse voar maneiro foi ninguém que me ensinou não foi passarinho
foi olhar do meu amor me arrepiou todinho e me eletrizou assim
quando olhou meu coração (2x)
(Repete refrão)
Ai, mais como é triste
essa nossa vida de artista
Depois de perder Vilma prá São Paulo
perder Maria Helena Pro Dentista.
A música “Margarida”, composta pelo cantor e compositor baiano de Bom Jesus da Lapa Gutemberg Guarabira, foi criada a partir de uma brincadeira entre o autor e o também compositor Sidney Miller.
Ambos se desafiaram a compor músicas com base em canções folclóricas, a exemplo do que fizera Dorival Caymmi com “Boi da cara Preta”. Sidney compôs “Marre de Cy”, Guarabira teve a felicidade de se lembrar de uma desilusão amorosa que teve quando tinha 16 anos e também do refrão de uma canção de roda francesa chamada "Seche tes Larmes, Marie” (Enxugue suas lágrimas, Maria).
Comento: a música foi consagrada ao obter o primeiro lugar na etapa nacional do II Festival Internacional da Canção, promovido pela Rede Globo, em 1967, suplantando favoritas que iriam entrar para história da MPB como: “Carolina” de Chico Buarque, que obteve o terceiro lugar, e o clássico “Travessia”, de Milton Nascimento, segunda colocada. Na fase internacional do Festival “Margarida” ficou com o terceiro lugar, o que rendeu furiosos protestos da torcida brasileira inconformada com o primeiro lugar da canção italiana “Per uma Dona”.
O interessante é que Guarabira tentou convencer, sem sucesso, vários cantores para defender a música, dentre eles, Agnaldo Timóteo. Restou a alternativa de “reagrupar” o Grupo Manifesto, composto por amigos músicos dos tempos do bar do Careca, com destaque para Gracinha Leporace, futura esposa de Sérgio Mendes, escolhida a melhor intérprete da fase nacional, defendendo, no mesmo Festival, "Canção de esperar você" , do seu irmão Fernando Leporace. A escolha do Manifesto veio a calhar - o grupo, já estava ensaiando a música para uma gravação de um disco pela Philips.
Guarabira, em uma entrevista a Júlio de Cesar Barros, teoriza para explicar a vitória da música:
"[...] até pode ser o caráter tranquilo e despojado da música a razão de ter vencido. Outro
dia estive comum compositor concorrente no mesmo festival e brinquei
que minha música só tinha vencido porque todas as outras eram tristes e a
minha era a única aragem fresca da manhã em toda aquela noite de
tempestades pela qual o Brasil passava na época. Além disso, hoje sei
que o público interpretava em mim uma espécie de símbolo daquilo que os
heróis populares geralmente representam. Eu era apenas um menino
anônimo, 19 anos à época, chegado do sertão longínquo do rio São
Francisco, sobrevivendo na cidade grande às custas de um emprego humilde
de office-boy etc. Portanto, aquele apoio todo da população do Rio,
milhares de pessoas enfeitadas de margarida fazendo um verdadeiro
carnaval no Maracanãzinho e também por toda a cidade, onde a flor virou
moda, tinha por trás uma força humana alheia à luta política que se
desenrolava. Isso pegou todo mundo de surpresa. Inclusive eu, claro."
Embora vencedora, a música não obteve o sucesso comercial de “Carolina” e “Travessia’. Foi logo esquecida devido à falta de empenho da gravadora que, pega de surpresa com o resultado do Festival preferiu priorizar a divulgação de outros cantores e só lançou o disco do grupo Manifesto quatro meses depois do Festival. O fato provocou um desentendimento entre Guarabira e a gravadora que, posteriormente, levou a rescisão do seu contrato prejudicando, ainda mais, a carreira do cantor em plena fase pós-vitória. O cantor só viria a despontar, tempos depois, com a companhia de Sá e Zé Rodrix.
Resumo da Opera: Margarida venceu, mas quem logo entrou para a História da MPB foi Milton Nascimento. Consagrou sua “Travessia” como uma das músicas mais admiradas da MPB e, de quebra, foi escolhido o melhor intérprete do Festival.
Ouça "Margarida" com o Grupo Manifesto e, no segundo vídeo, confira a bela regravação do Grupo Roupa Nova. Escolha sua versão.
Fonte
Mello,Zuza Homem de, A era dos festivais: uma parábola, Editora 34. http://veja.abril.com.br/blog/passarela/entrevista/e-apareceu-o-guarabyra-3.
Grupo manifesto
Roupa Nova
Letra
Andei, terras do meu reino em vão
Por senhora que perdi
E por quem fui descobrir
Não me crer mais rei e aqui me encerrei
Sou cantor e cantarei
Que em procuras de amor morri, ai
Dor que no meu tempo dói
Que destróes assim de mim
Bem sei que eu achei enfim
E que adianto a dor
Mas me queimou
Pois por não saber de amor
Ela ainda rainha está
E ela está em seu castelo, olê, olê, olá
E ela está em seu castelo, olê, seus cavaleiros
Ora peçam que apareça
Pois por mais que eu ofereça
Mais que evita essa senhora
Eu já fui rei, já fui cantor
Vou ser guerreiro, um perfeito cavaleiro
Armadura, escudo, espada
Pra seguir na escalada,
Belo motivo, é por amor que vou lutando
E pelas pedras do castelo
Como eu já vou retirando
E retirando uma pedra, olê, olê,olá
Mais uma pedra não faz falta, olâ, seus cavaleiros
Que ainda correm pelo mundo
Ouçam só por segundo, eu acabo de vencer
Retirei pedras de orgulho, majestades,
Deixei todas de humildades, de amores sem reinado
Ela então se me rendeu
Eu já fui rei, já fui cantor, já fui guerreiro
E agora enfim sou companheiro
Da mulher que apareceu
E apareceu a Margarida, olê, olê, olá
E apareceu a Margarida, olê, seus cavaleiros
Fonte:
Em “Silêncio de um minuto”, composta em 1935, Noel Rosa, poeta do morro e da
cidade, mostra uma das suas muitas vertentes na música: o lirismo. Na obra, o Poeta
da Vila associa um amor desfeito ao luto e não economiza metáforas para
“sepultar” uma história de amor até então cheio de glórias.
A música foi gravada em 1940, por Marília Batista e contou com arranjo de
Pixiguinha, em uma gravação pela Victor.Marília teria recebido da mãe de
Noel, quando ele faleceu, em 1937, um caderno com anotações, entre outros
materiais. Ali estava, por exemplo, a letra de "Balão Apagado", que
ela musicou nos anos 60. Talvez no caderno também estivesse esta versão resumida, de "Silêncio de um
minuto". Explico: na verdade, não se sabe por qual motivo a cantora suprimiu algumas
estrofes da música, perdendo imagens marcantes da obra, como "a pá do
fingimento" e "a cal do esquecimento". A letra completa foi
gravada por Aracy de Almeida em 1951 com arranjo de Radamés Gnattali.
Ouça “Silêncio de um minuto” nas vozes de três renomadas cantoras de três
gerações distintas. Aracy de Almeida, Maria Bethânia, Roberta Sá. Escolha a
melhor versão.
Aracy de Almeida
Maria Bethânia
Roberta Sá
Letra
Não te vejo nem te escuto,
O meu samba está de luto.
Eu peço o silêncio de um minuto,
Homenagem à história
De um amor cheio de glória
Que me pesa na memória.
Nosso amor cheio de glória,
De prazer e de ilusão
Foi vencido e a vitória
Cabe à tua ingratidão.
Tu cavaste a minha dor
Com a pá do fingimento
E cobriste o nosso amor
Com a cal do esquecimento.
Teu silêncio absoluto
Me obrigou a confessar
Que o meu samba está de luto,
Meu violão a soluçar
Luto preto é vaidade
Neste funeral de amor.
O meu luto é a saudade
E saudade não tem cor.
Fonte:
Bessa, Virginía de Almeida. A escuta Singular de Pixinguinha
– História e música popular no Brasil de 1920 e 1930. São Paulo. Editora
Alameda Casa Editorial ,2010.
"(...) sinto sempre uma hesitação danada quando, nos hotéis, enchendo a ficha de hospedagem, tropeço na 'Profissão'. Pianista? Professor? Jornalista? Crítico de arte? Folclorista? ou mais recentemente: Funcionário Público?"
(Mário de Andrade)
É verdade. A reflexão de Mario de Andrade sobre sua profissão bem caracteriza o perfil do escritor - inquieto intelectual e artista multifacetado. Com efeito, talvez uma boa definição para Mário Raul de Moraes Andrade (893-1945) seria uma frase de um dos seus poemas: “Sou trezentos, sou trezentos e cinquenta”, apresentado no livro “”Rematesde males” de 1930.
Um dos maiores expoentes do movimento modernista, Mário de Andrade também se notabilizou como um profundo estudioso da música. Há quem diga que essa vertente de interesse pela música tenha exercido profunda influência na formação das suas demais atividades. Estudou piano em conservatório e tornou-se professor de música desse mesmo conservatório. Seus livros sobre o tema, a exemplo de “Ensaio sobre a música brasileira” e “Pequena história da música”, são obras obrigatórias para pesquisadores da MPB.
Tanta dedicação à música, entretanto, não fez do nosso grande intelectual um compositor prolífico - talvez por isso ele não tenha se definido como compositor. Tenho conhecimento de apenas duas músicas por ele composta. A primeira, conhecida pelo título de “Hino do Grupo do Gambá”, é uma brincadeira que ele fazia durante as reuniões com seu grupo modernista na casa de D. Olívia Penteado. A segunda, bem mais conhecida, foi batizada de “Maroca”, também chamada de “Viola Quebrada”, uma bela modinha com argumentos regionais onde fica clara a admiração do poeta pelo estilo simples das canções populares com forte sotaque caipira. Esse apego ao folclore é demonstrado nas várias viagens etnográficas que o escritor fez pelo Brasil.
Viola Quebrada foi escrita em meados da década de 1920, chegou a ter acompanhamento de Villa-Lobos e foi gravada por grandes artistas brasileiros. A respeito dessa música, o interessante é que o nosso eclético modernista confessou, em carta enviada para seu amigo, o escritor Manuel Bandeira que, para compor “Maroca”, se baseara em Cabocla de Caxangá, famosa música da época, de autoria atribuída a Catulo da Paixão Cearense e João Pernambuco. Exagerado na modéstia o poeta admite até um inocente plágio na estética da sua música, se justificando pela sua condição de compositor amador. Na carta ele conta o seu segredo ao amigo:
“Você quer escutar uma confidência só mesmo pra você? Pois isso é o pasticho mais indecentemente plagiado que tem. No que aliás não tenho a culpa porque toda a gente sabe que não sou compositor. A Maroca foi friamente feita assim: peguei no ritmo melódico de Cabocla do Caxangá e mudei as notas por brincadeira me vestindo. Tenho muito costume de sobre um modelo rítmico qualquer inventar sons diferentes pra me dar uma ocupação sonora quando me visto. Assim saiu a Maroca que por acaso saindo bonita registrei e fiz versos pra. Só o refrão não é pastichado da rítmica melódica da obra de Catulo. E a linha que inventei tem dois dos tais torneios melódicos que especifiquei na Bucólica coisa que aliás só verifiquei agora pois nunca tinha ainda matutado nisso. Aliás o refrão não tem nada de propriamente brasileiro com aquele tremido sentimental.”
Ouvindo a música muita gente discorda do excesso na autocrítica do nosso eclético artista. E você? Ouça a bela melodia de Viola Quebrada na voz de Rolandro Boldrin, logo depois, para comparar, confira “Cabocla de Caxangá”. Aproveite para participar das reuniões dos modernistas ouvindo o “Hino do Grupo do Gambá”, gravado por Marcelo Tápia e Grupo Colher de Pau,
no terceiro vídeo.
Viola Quebrada
Cabocla de Caxangá
Hino do Grupo Gambá
Letra de Viola Quebrada Quando da brisa no açoite a flor da noite se acurvou Fui encontra coma a Maróca meu amor Eu senti n'alma um golpe duro Quando ao muro lá no escuro Meu olhar andou buscando a cara dela e não achou Minha viola gemeu Meu coração estremeceu Minha viola quebrou Meu coração me deixou Minha Maróca resolveu prá gosto seu me abandonar Porque o fadista nunca sabe trabalhar Isto é besteira pois da flor Que brilha e cheira a noite inteira Vem de´pois a fruta que dá gosto de saborear Minha viola gemeu Meu coração estremeceu Minha viola quebrou Meu coração me deixou Por causa dela sou um rapaz muito capaz de trabalhar E todos os dias todas as noites capinar Eu sei carpir porque minh'alma está arada e loteada Capinada com as foiçadas desta luz do seu olhar
No início do século XX, o Rio de Janeiro estava infestado de vetores de doenças infecciosas decorrente da falta de higiene da população e condições insalubres das moradias. Em decorrência, era comum, na então capital do país, a incidência de varíola, peste bubônica e febre amarela. Coube ao jovem médico Osvaldo Cruz, à época Diretor da Diretoria Geral de Saúde Pública –DGSP, a difícil tarefa de empreender ações profiláticas de viés médico higienista para reduzir ocorrência de infectados que já causavam um considerável número de mortes.
Com amparo em lei regulamentada especificamente para combate as causas da proliferação das doenças, foram realizadas demolição de cortiços, desratização e dedetização das casas a qualquer hora, isolamento de doentes, fim da ordenha de vacas nas ruas, da criação de porcos em casa e prisões aos desobedientes, sacrifícios de cães vadios, dentre outras ações que não contaram com o apoio de uma população incrédula quanto à eficácia das ações mitigadoras e revoltada com o autoritarismo das normas.
O certo é que as ações do sanitarista obtiveram excelentes resultados, mas lhe custou uma série de críticas e revoltas incentivada pela oposição que se aproveitava da ira da população. Eram comuns charges, galhofas e letras de músicas ridicularizando o médico. A polca “Rato rato” é um desses exemplos de sátira desse momento conturbado. A música, um grande sucesso do carnaval de 1904, composta pelo músico da Banda do Corpo de Bombeiros do Rio de Janeiro Casimiro da Rocha e letra de Claudino Costa, satirizava a campanha de desratização da cidade do Rio de Janeiro, implantada por Osvaldo Cruz, entre 1903 e 1907, para erradicar a peste bubônica - doença transmitida por meio das pulgas alojadas nos roedores.
Dentre as várias medidas, estava incluída a compra, pelo estado, de ratos mortos. Um Decreto chegou a criar a figura do “ratoeiro”, profissionais encarregados de intermediar a compra dos roedores e que, para atingir a meta estipulada de animais abatidos por dia, aos gritos de “rato, rato, rato”, perambulavam pelas favelas, cortiços e bairros pobres da cidade com uma lata na mão e uma corneta para anunciar sua chegada e recolher os bichos sacrificados pela população. Mesmo com os desvios percebidos – foram relatados casos de pessoas que criavam ratos para vendê-los – o programa foi exitoso, estima-se que 1,6 milhões desses animais foram exterminados e os casos de peste bubônica foram reduzidos consideravelmente.
Ouça a polca choro em três versões. As duas primeiras ainda no tempo da gravação mecânica. Tempo em que os cantores praticamente gritavam para ter sua voz registrada no disco. A primeira é uma versão ainda sem letra de Casimiro da Rocha, gravada em 1907, a segunda versão, já com letra, interpretado por Artur Castro em 1913 e a terceira, uma gravação de 1945, da inesquecível Ademilde Fonseca.
Casemiro de Abreu
Artur Castro
Ademilde Fonseca
LETRA
Rato, rato, rato
Porque motivo tu roeste meu baú?
Rato, rato, rato,
Audacioso e malfazejo gabiru.
Rato, rato, rato,
Eu hei de ver ainda o teu dia final,
A ratoeira te persiga e consiga,
Satisfazer meu ideal.
Quem te inventou?
Foi o diabo, não foi outro, podes crer
Quem te gerou?
Foi uma sogra pouco antes de morrer!
Quem te criou?
Foi a vingança, penso eu,
Rato, rato, rato, rato,
Emissário do judeu.
Quando a ratoeira te pegar,
Monstro covarde, não me venhas,
A gritar, por favor.
Rato velho, descarado, roedor
Rato velho, como tu faz horror!
Vou provar-te que sou mau,
Meu tostão é garantido,
Não te solto nem a pau...
"O bom senso é a coisa mais bem repartida entre os homens, pois cada qual pensa estar tão bem provido dele, que mesmo os que são mais difíceis de contentar em qualquer outra coisa não costumam desejar tê-lo mais do que o têm..."
Mais uma versão do clássico “My Way”, dessa vez na voz da Shirley Bassey.
Dame Shirley Veronica Bassey nasceu no País de Gales. Dentre seus trabalhos mais conhecidos estão os temas de filmes de James Bond, como: "Goldfinger" de 1964, que lançou sua respeitada carreira internacional ,"Diamonds Are Forever" (1971) e "Moonraker" (1979).
Em 2013, na cerimônia de premiação do Oscar, a cantora foi ovacionada de pé pelo público, ao cantar “Goldfinger”, em uma homenagem aos cinquenta anos da primeira versão da série James Bond.
Confira outras belas interpretações de My Way na aba "Versões My Way" aí na aba à direita.
Muita coisa do que eu fiz, que data de 1930, eu acho hoje
uma porcaria, não faria de novo. São obras que não resistem. Mas, também, seria
preciso julgar com o espírito de então...Considero uma calamidade, uma injúria
alguém publicar as coisas iniciais, aqueles vagidos dos escritores que se tornaram
mais ou menos conhecidos. Saem coisas incríveis...
Interessante Curta-metragem produzido pela BossaFilmes, em comemoração ao centenário de nascimento de Noel Rosa.O vídeo apresenta depoimentos de artistas famosos que conheceram o poeta como, Elisete Cardoso, Adoniram Barbosa, Ismael Silva, Almirante e Braguinha. Os dois últimos, em 1929, ainda em início de carreira, chegaram a dividir palco com Noel em um conjunto musical chamado Bando de Tangarás.
O fundo musical apresenta Noel Rosa cantando duas das suas várias obras primas – “Positivismo” e “Coisas Nossas”, gravação de 1933. As duas cantoras preferidas do Poeta da Vila também participam. Marília Batista interpreta “Feitio de Oração” e Araci de Almeida apresenta “Não tem Tradução”. De quebra, “Filosofia” com Adoniran Barbosa.
Na bela Paris, em algum dia do ano de 1894, o pianista cearense Alberto Nepomuceno (1864 – 1920) musicou o poema “Medroso de Amor”, de seu conterrâneo, o poeta e folclorista Juvenal Galeno (1836-1931). Na união das competências de dois nacionalistas o resultado não poderia ser outro: a brasilidade da obra.
Considerado um dedicado observador dos costumes do interior, do sertão, das praias, Juvenal Galeno se considerava um poeta popular e se destacou pelo pioneirismo na literatura do Ceará. Seu livro de estreia, “Prelúdios Poéticos”, editado em 1856, é considerado o primeiro livro da literatura cearense e o marco inicial do Romantismo no Ceará. A peça “Quem com ferro fere com ferro será Ferido”, Única obra de Juvenal Galeno para o teatro, é considerada a primeira peça teatral escrita, produzida e encenada no ceará. O poeta também é considerado o pioneiro do folclore no Nordeste.
Fala-se - versão contestada por alguns pesquisadores - que a estética de sua obra, com forte sabor popular, foi orientação do poeta Gonçalves Dias que havia se hospedado na casa dos pais de Juvenal Galeno e de quem se tornou amigo. São poesias simples, com sotaque interiorano, que demonstrava profunda preocupação com a sorte do seu povo, fruto do forte engajamento político do cearense. Também se observava lirismo e musicalidade em sua obra, como pode ser observado no poema “Cajueiro Pequenino”:
Cajueiro Pequenino, carregadinho de flor. À sombra das suas folhas, venho cantar meu amor.
Em “Medroso de Amor”, um poema aparentemente ingênuo, até brejeiro, Juvenal Galeno realça as virtudes de um tipo genuinamente brasileiro - a moreninha - que habitava o imaginário popular da época com seu poder de seduzir, definitivamente, pelo sorriso meigo e olhar apaixonado.
Moreninha, não sorrias com meiguice... com ternura (Não sorrias com meiguice) Este riso de candura Não desfolhes, não sorrias Que eu tenho medo d´amores Que só trazem desventuras. Moreninha! Não me fites Como agora, apaixonada (Não me fites como agora, moreninha) Este olhar toda enlevada Não desprendas, não me fites Pois assim derramas fogo Em minh´alma regelada. Moreninha! (Moreninha,) vai-te embora Com teus encantos maltratas; (Moreninha, vai-te embora...) Eu fui mártir das ingratas Quando amei... Oh, vai-te embora! Hoje fujo das mulheres Pois fui mártir das ingratas.
O poeta ficou cego em 1908, mas nunca abandonou a literatura. Teve uma vida longa, faleceu em 7 de março de1931, de uremia, aos 95 anos.
Denominada Opus 17 n°1, a melodia de Nepomuceno para “Medroso de Amor”, reflete o romantismo de Juvenal e, ao ouvi-la, percebe-se, claramente, a simpatia que o maestro cearense nutria pelos ritmos populares brasileiros da época, como o maxixe, o tango brasileiro e o choro. Embora fosse músico erudito, Nepomuceno defendia com unhas e dentes a língua portuguesa. Ficou famosa uma frase supostamente a ele atribuída - “Não tem pátria um povo que não canta em sua língua”.
“Medroso de Amor” se destaca, na vasta obra de Nepomuceno, por ser uma das suas primeiras incursões no universo popular. O compositor daria novas demonstrações da sua paixão pelos ritmos populares ao convidar Catulo da Paixão Cearense e Ernesto Nazareth para participar das apresentações musicais da Exposição Nacional realizada em 1908. Em 1904, organizou os primeiros recitais com canções em língua portuguesa e inovou ao lançar a obra “O Garatuja” sobre texto de José de Alencar. Aquilo que foi, nas palavras de Manuel Negwer, “a primeira ópera inconfundivelmente brasileira em que ritmos nativos como lundu e maxixe são utilizados”.
Em “Medroso de Amor”, o músico cearense parece ir buscar elementos rítmico-melódico da modinha, estilo musical romântico bastante popular no Brasil na metade do século XVIII e que teve como grande nome Domingos Caldas Barbosa, um descendente de escravo que fez grande sucesso na corte portuguesa do século 18. A música chegou a merecer análise de Mário de Andrade em “Ensaio Sobre a Música Brasileira”.
Guida Borghoff e Luciana Monteiro de Castro, da UFMG, em uma breve análise, no site “Canções Brasileiras obras para Canto e Piano”, um guia de consulta sobre obras brasileiras para canto e piano, destacam: “Das canções escritas em 1894, primeiras canções de câmara escritas em português, esta é a que mais elementos nacionais apresenta melodias em frases curtas à maneira das modinhas e frases longas, associando versos, à maneira das serestas. Além destes aspectos melódicos, a presença de síncopes em um andamento 'presto' levou um crítico musical a referir-se à obra como um ´lundu transfigurado”.
A inovação musical de Alberto Nepomuceno na busca da nacionalização da música erudita não ficou imune aos críticos mais puristas. Oscar Guanabarino, um músico com sólida formação em piano e também uma espécie de feroz crítico musical da época, teceu violentos ataques contra aquilo que considerava uma “tentativa inconcebível de alteração da estética da música clássica mundial”. Outro defensor da música brasileira também seria alvo dos ataques de Guanabarino: Villa-Lobos viria a reger em 1921, uma versão orquestral de “Medroso de Amor”.
Segundo o ‘Catálogo geral de obras de Alberto Nepomuceno’, editado pela FUNARTE, a primeira audição de 'Medroso de amor' foi em um concerto realizado no dia 4 de agosto de 1895, no Instituto Nacional de Música, Rio de Janeiro, na voz de Leopoldo Noronha, acompanhado ao piano pelo próprio Nepomuceno. A obra não consta do programa impresso e nem dos comentários da imprensa realizados por críticos da época.
Em 1968, Nara Leão gravou Medroso de Amor, apoiada em arranjos de Rogério Duprat, uma versão modernizada, sem as impostações líricas da maioria das versões interpretadas por sopranos.
Ouça a versão de Nara Leão e a mais tradicional representada pela soprano Patrícia Endro acompanhada por Dante Pignatari.
Fontes: Pignatari,Dante; Canto da Língua: Alberto Nepomuceno e a Invenção da Música Brasileira - Tese de mestrado, 2009. Negwer, Manuel; Villa-Lobos – O Florescimento da música brasileira, Editora Martins Fontes,2009 Canções Brasileiras -guia de consulta sobre obras brasileiras para canto e piano, www.grude.ufmg.br/cancaobrasileira
Em 1979, o ritmo contagiante do Frevo ficou ainda mais rico na voz do eterno Jackson do Pandeiro e Gilberto Gil. A música é “Sou Eu Teu Amor”, de dois pernambucanos: Alceu Valença e Carlos Fernando. O acompanhamento também é de primeira: Robertinho de Recife (guitarra), Paulo Rafael (guitarra), Geraldo Azevedo (violão), Novelli (baixo), Robertinho Silva (bateria), Jackson do Pandeiro (pandeiro), Rafael Rabello (violão de 7 cordas), Joel Nascimento (bandolim), Zé Américo (sanfona) e o maestro Juarez Araújo (clarinete e sax). A música foi gravada no disco “Asas da América”, de 1979.
Comento: Autor de grandes sucessos como “Banho de Cheiro” e “Siri na Lata”, o compositor Caruaruense Carlos Fernando é o idealizador do projeto Asas da América, iniciado no início dos anos 80 - uma tentativa de modernizar o ritmo do frevo e levá-lo além das fronteiras de Pernambuco. O projeto Asas da América frutificou e gerou uma série de álbuns que contou com a participação de grandes nomes da MPB como: Chico Buarque, Gilberto Gil, Caetano Veloso e Jackson do Pandeiro a Marco Pólo, Geraldo Azevedo, Flaviola, Alceu Valença, Zé Ramalho, Elba Ramalho, Fagner, dentre outros.