sábado, 22 de janeiro de 2011

Histórias de Ciro Monteiro.

O meu amigo Eliezer Rodrigues, editor da Revista Singular, garimpou um interessante vídeo, com uma passagem da vida do grande Ciro Monteiro. O fato me fez relembrar outra histórias engraçadas do Formigão que comentarei após reprodução do Post do jornalista.

“Chico Buarque, Ciro Monteiro e o Fluminense

(extraído de http://singularevista.blogspot.com/2010/12/chico-buarque-ciro-monteiro-e-o.html)

A história informal do Fluminense, campeão brasileiro de 2010, envolve duas personalidades da melhor qualidade pertencentes à Música Popular Brasileira: Chico Buarque e Ciro Monteiro (o cantor da caixinha de fósforo e intérprete de preciosidades do cancioneiro nacional, como Se acaso você chegasse – de Lupicínio Rodrigues e Felisberto Martins e Falsa baiana, de Geraldo Pereira, por exemplo). Ciro (faleceu em 1973, aos 60 anos), conhecido no meio artístico como Formigão, pois era viciado em doces, quando do nascimento de filhos de amigos, tinha o hábito de presentear o rebento com a camisa do Flamengo, seu time do coração. Por outro lado, é de domínio público a devoção que Chico tem pelo Fluminense, o Tricolor das Laranjeiras, e quando do nascimento de filha Silvinha, Ciro presenteou com uma camisa do rubro negro carioca. Chico não deixou por menos a brincadeira feita por Ciro, e fez um samba bem-humorado "agradecendo" o presente.

E neste vídeo antológico, gravado em 1972, o próprio Ciro conta o acontecido e canta a música Ilmo Sr. Ciro Monteiro, do amigo. Ao lado dele estão Sérgio Cabral, Elke Maravilha, Carminha Mascarenhas, Lúcio Alves e outros.”

Comento: Ao ver o Post de Eliezer Rodrigues  me vieram à memória outras histórias engraçadas de Ciro Monteiro. O cantor nasceu em Niteroi, no Rio de Janeiro, em 28 de maio de 1913 e faleceu em 13 de julho de 1973. 

Era reconhecido como boa praça e extremamente espirituoso. O Formigão, apelido dado pelo compositor e parceiro Eratóstenes Frazão, gozava da admiração de gente como Vinicius de Moraes, Chico Buarque e Paulinho da Viola, que se divertiam das tiradas espirituosas do cantor. Vinicius de Moraes chegou a declarar: “Ciro é um abraço em toda a humanidade”.

O caricaturista e dirigente da Rede Globo, Mauro Borja Lopes, o Borjalo, foi testemunha de uma destas hilárias histórias de Formigão, registrada no livro “À mesa do Vilariño” do jornalista e compositor Fernando Lobo.

Lobo conta que Cyro Monteiro detestava viajar de avião, mas devido aos compromissos profissionais em São Paulo, onde apresentava o programa “Noite de Gala”, tinha que se resignar e enfrentar o pânico de avião, afinal, o salário era compensador.

Em um desses vôos, antes da decolagem, Ciro rezou em voz baixa, mas suficiente para os mais próximos ouvirem:

Meu São Andreatto, protegei o comandante, pai de filhos lindos e marido de uma moça jovem. Protegei toda a tripulação”.

A decolagem foi feita sem problema, mas ao ver a aeromoça rindo piedosamente na sua direção, rezou novamente:

“São Andreatto, protegei-nos a todos. Fazei com que cheguemos são e salvos no Rio”.

Mas quem é São Andreatto?”, perguntou o cidadão sentado ao lado. 

São Andreatto? São Andreatto nasceu em Lisboa em 1402. Não é muito divulgado e, portanto, me agarro a ele, pois sendo tão desocupado tem bastante tempo para me atender. Eu sei que São Andreatto está doido para se promover fazendo um milagre. A chance é essa”.
 
Fechou os olhos e dormiu, sem reconhecer Borjalo que estava ao seu lado.

Ciro não deixou de brincar até mesmo a poucos instantes da morte. O pesquisador Jairo Severiano conta em seu livro “Uma história da Música Popular Brasileira – Das origens à modernidade”, que o cantor, pouco antes de morrer, declarou à apresentadora de televisão Edna Savaget:  

“Leve um recado para os amigos Vinicius de Moraes, Fernando Lobo e Reinaldo Dias Leme: diga para não chorar, porque tenho encontro marcado com Pixinguinha, Stanislaw Ponte Preta e Benedito Lacerda. Não bebo há dois anos e agora vou tomar o maior pileque da minha vida”

Outra graça ocorrida  também pouco antes da sua morte está registrada no livro “Almanaque do Samba – A história do samba, o que ouvir, o que ler, onde curtir”, do pesquisador André Diniz:

Os médicos fizeram um teste de lucidez no cantor, que já estava em estado grave. Perguntaram-lhe seu nome e Ciro, com um riso maroto, respondeu: Roberto Carlos. Foi sua última piada. 

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