sábado, 8 de janeiro de 2011

João da Baiana, Pinheiro Machado e o pandeiro apreendido.

Curiosidades da Música Popular Brasileira.

A censura à livre manifestação artística não ocorreu apenas no negros período da ditadura militar, iniciada em 1964. Ficaram famosas as restrições aos músicos impostas pelo DIP – Departamento de Imprensa e propaganda instituído pelo Estado Novo, no governo de Getúlio Vargas.

Os funcionários do DIP - embora não tão truculentos quanto os censores da ditadura militar, comandados pela poderosa Dona Solange Maria , Chefe Divisão de Censura de Diversões Públicas (DCDP), da Polícia Federal - metiam o bedelho em tudo, desde a orientação para criação de sambas politicamente corretos, que enaltecessem o trabalho, até a proibição de letras que utilizassem nome de pessoas. Mas isto é assunto para outro post.

Um dos casos mais célebres de restrição à livre manifestação cultural ocorreu no início do século. Naquela época, a música brasileira estava ainda definindo seus contornos e era bastante comum, músicos populares terem seus instrumentos aprendidos pela polícia. 

No Rio de Janeiro do início do século, os instrumentos musicais populares, como: violões, cavaquinhos e pandeiros, eram considerados, de forma preconceituosa, símbolos da malandragem reinante no espaço chamado pelo compositor Heitor dos Prazeres de “Velha África”,  perímetro que se estendia da zona do caís do porto até a cidade nova, tendo, como centro, a Praça Onze, área predominantemente  habitada por negros forros oriundos da Bahia. Os abusos extrapolavam a ação de apreender o instrumento. Com efeito, algumas vezes, os policiais examinavam os dedos dos músicos em busca de calos, evidências do uso de instrumentos de corda, e aí era cadeia na certa.

O compositor João da Baiana, falecido em 1974, considerado um dos grandes precursores do samba e autor de sucessos como: “Cabide de Molambo”, “Patrão Prenda Seu Gado” e “Batuque na Cozinha” foi protagonista de um desses abusos. Ele era filho da baiana  Perciliana Maria Constança, a tia Perciliana do Santo Amaro,  que a exemplo de outras tias festeiras adeptas do candomblé, como Ciata e  Amélia, tinha o samba nas veias.


João Machado Guedes, seu nome de batismo, certa vez, não compareceu a uma festa na casa do poderoso Senador Pinheiro Machado. O motivo: seu pandeiro havia sido apreendido pela polícia na famosa festa da Penha. Alguns dias depois, o senador (foto da direita), ao saber do ocorrido, mandou fazer um pandeiro na loja Cavaquinho de Ouro, do Seu Oscar. O político, um dos mais habilidosos e poderosos do período, era apreciador dos ritmos populares e teve o cuidado de gravar, no instrumento, uma dedicatória: “A minha admiração, João da Baiana – Senador Pinheiro Machado”.

Fala-se que a partir deste momento, João da Baiana nunca mais foi importunado pela polícia.   

Ouça algumas da obras de João da Baiana. “Batuque na Cozinha”, “Cabide de Molambo”, “Patrão Prenda seu Gado”e Nana Boroquê. No quinto vídeo, João da Baiana e Donga falam sobre as origens do samba. Complementando, apresento um vídeo de 1969, realizado pelo cineasta francês Pierre Barouh com a participação de João da Baiana e Pixinguinha.












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