sexta-feira, 15 de março de 2013

Osvaldo Cruz e a polca "Rato rato".

Curiosidades de Música Popular Brasileira

No início do século XX, o Rio de Janeiro estava infestado de vetores de  doenças infecciosas decorrente da falta de higiene da população e condições insalubres das moradias. Em decorrência, era comum, na então capital do país, a incidência de varíola, peste bubônica e febre amarela. Coube ao jovem médico Osvaldo Cruz, à época Diretor da Diretoria Geral de Saúde Pública –DGSP, a difícil tarefa de empreender ações profiláticas de viés médico higienista para reduzir ocorrência de infectados que já causavam um considerável número de mortes.

Com amparo em lei regulamentada especificamente para combate as causas da proliferação das doenças, foram realizadas demolição de cortiços, desratização e dedetização das casas a qualquer hora, isolamento de doentes, fim da ordenha de vacas nas ruas, da criação de porcos em casa e prisões aos desobedientes, sacrifícios de cães vadios, dentre outras ações que não contaram com o apoio de uma população incrédula quanto à eficácia das ações mitigadoras e revoltada com o autoritarismo das normas.

O certo é que as ações do sanitarista obtiveram excelentes resultados, mas lhe custou uma série de críticas e revoltas incentivada pela oposição que se aproveitava da ira da população. Eram comuns charges, galhofas e letras de músicas ridicularizando o médico. A polca “Rato rato” é um desses exemplos de sátira desse momento conturbado. A música, um grande sucesso do carnaval de 1904, composta pelo músico da Banda do Corpo de Bombeiros do Rio de Janeiro Casimiro da Rocha e letra de Claudino Costa, satirizava a campanha de desratização da cidade do Rio de Janeiro, implantada por Osvaldo Cruz, entre 1903 e 1907, para erradicar a peste bubônica - doença transmitida por meio das pulgas alojadas nos roedores.

Dentre as várias medidas, estava incluída a compra, pelo estado, de ratos mortos. Um Decreto chegou a criar a figura do “ratoeiro”, profissionais encarregados de intermediar a compra dos roedores e que, para atingir a meta estipulada de animais abatidos por dia, aos gritos de “rato, rato, rato”, perambulavam pelas favelas, cortiços e bairros pobres da cidade com uma lata na mão e uma corneta para anunciar sua chegada e recolher os bichos sacrificados pela população. Mesmo com os desvios percebidos – foram relatados casos de pessoas que criavam ratos para vendê-los – o programa foi exitoso, estima-se que 1,6 milhões desses animais foram exterminados e os casos de peste bubônica foram reduzidos consideravelmente.

Ouça a polca choro em três versões. As duas primeiras ainda no tempo da gravação mecânica. Tempo em que os cantores praticamente gritavam para ter sua voz registrada no disco. A primeira é uma versão ainda sem letra de Casimiro da Rocha, gravada em 1907, a segunda versão, já com letra, interpretado por Artur Castro em 1913 e a terceira, uma gravação de 1945, da inesquecível Ademilde Fonseca.

Casemiro de Abreu

Artur Castro

Ademilde Fonseca


LETRA

Rato, rato, rato
Porque motivo tu roeste meu baú?
Rato, rato, rato,
Audacioso e malfazejo gabiru.

Rato, rato, rato,
Eu hei de ver ainda o teu dia final,
A ratoeira te persiga e consiga,
Satisfazer meu ideal.

Quem te inventou?
Foi o diabo, não foi outro, podes crer
Quem te gerou?
Foi uma sogra pouco antes de morrer!

Quem te criou?
Foi a vingança, penso eu,
Rato, rato, rato, rato,
Emissário do judeu.

Quando a ratoeira te pegar,
Monstro covarde, não me venhas,
A gritar, por favor.
Rato velho, descarado, roedor
Rato velho, como tu faz horror!


Vou provar-te que sou mau,
Meu tostão é garantido,
Não te solto nem a pau...

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sábado, 9 de março de 2013

Frase do Dia. R. Descartes.

"O bom senso é a coisa mais bem repartida entre os homens, pois cada qual pensa estar tão bem provido dele, que mesmo os que são mais difíceis de contentar em qualquer outra coisa não costumam desejar tê-lo mais do que o têm..."

(René Descartes)
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terça-feira, 5 de março de 2013

Versões "My Way". Shirley Bassey.

Mais uma versão do clássico “My Way”, dessa vez na voz da Shirley Bassey.
Dame Shirley Veronica Bassey nasceu no País de Gales. Dentre seus trabalhos mais conhecidos estão os temas de filmes de James Bond, como: "Goldfinger" de 1964, que lançou sua respeitada carreira internacional ,"Diamonds Are Forever" (1971) e "Moonraker" (1979).

Em 2013, na cerimônia de premiação do Oscar, a cantora foi ovacionada de pé pelo público, ao cantar “Goldfinger”, em uma homenagem aos cinquenta anos da primeira versão da série James Bond.

Confira outras belas interpretações de My Way na aba "Versões My Way" aí na aba à direita.


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sábado, 2 de março de 2013

Frase do Dia. Carlos Drummond de Andrade.

                                                                                                                                                                        
Muita coisa do que eu fiz, que data de 1930, eu acho hoje uma porcaria, não faria de novo. São obras que não resistem. Mas, também, seria preciso julgar com o espírito de então...Considero uma calamidade, uma injúria alguém publicar as coisas iniciais, aqueles vagidos dos escritores que se tornaram mais ou menos conhecidos. Saem coisas incríveis... 

(Carlos Drummond  de Andrade)
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quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

Curta-metragem sobre Noel Rosa.


Interessante Curta-metragem produzido pela BossaFilmes, em comemoração ao centenário de nascimento de Noel Rosa.O vídeo apresenta depoimentos de artistas famosos que conheceram o poeta como, Elisete Cardoso, Adoniram Barbosa, Ismael Silva, Almirante e Braguinha. Os dois últimos, em 1929, ainda em início de carreira, chegaram a dividir palco com Noel em um conjunto musical chamado Bando de Tangarás.


O fundo musical apresenta Noel Rosa cantando duas das suas várias obras primas – “Positivismo” e “Coisas Nossas”, gravação de 1933. As duas cantoras preferidas do Poeta da Vila também participam. Marília Batista interpreta “Feitio de Oração” e Araci de Almeida apresenta “Não tem Tradução”. De quebra, “Filosofia” com Adoniran Barbosa.


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sábado, 16 de fevereiro de 2013

Frase do Dia. Henry Ford.

"Se eu perguntasse a meus compradores o que eles queriam, teriam dito que era um cavalo mais rápido"

(Henry Ford )
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segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

Belos poemas que viraram músicas. Medroso de Amor.

 Na bela Paris, em algum dia do ano de 1894, o pianista cearense Alberto Nepomuceno (1864 – 1920) musicou o poema “Medroso de Amor”, de seu conterrâneo, o poeta e folclorista Juvenal Galeno (1836-1931). Na união das competências de dois nacionalistas o resultado não poderia ser outro: a brasilidade da obra.


Considerado um dedicado observador dos costumes do interior, do sertão, das praias, Juvenal Galeno se considerava um poeta popular e se destacou pelo pioneirismo na literatura do Ceará. Seu livro de estreia, “Prelúdios Poéticos”, editado em 1856, é considerado o primeiro livro da literatura cearense e o marco inicial do Romantismo no Ceará. A peça “Quem com ferro fere com ferro será Ferido”, Única obra de Juvenal Galeno para o teatro, é considerada a primeira peça teatral escrita, produzida e encenada no ceará. O poeta também é considerado o pioneiro do folclore no Nordeste.

Fala-se - versão contestada por alguns pesquisadores - que a estética de sua obra, com forte sabor popular, foi orientação do poeta Gonçalves Dias que havia se hospedado na casa dos pais de Juvenal Galeno e de quem se tornou amigo. São poesias simples, com sotaque interiorano, que demonstrava profunda preocupação com a sorte do seu povo, fruto do forte engajamento político do cearense. Também se observava lirismo e musicalidade em sua obra, como pode ser observado no poema “Cajueiro Pequenino”: 

Cajueiro Pequenino,
carregadinho de flor.
À sombra das suas folhas,
venho cantar meu amor.

Em “Medroso de Amor”, um poema aparentemente ingênuo, até brejeiro, Juvenal Galeno realça as virtudes de um tipo genuinamente brasileiro - a moreninha - que habitava o imaginário popular da época com seu poder de seduzir, definitivamente, pelo sorriso meigo e olhar apaixonado. 

Moreninha, não sorrias
com meiguice... com ternura
(Não sorrias com meiguice)
Este riso de candura
Não desfolhes, não sorrias
Que eu tenho medo d´amores
Que só trazem desventuras.
Moreninha! Não me fites
Como agora, apaixonada
(Não me fites como agora, moreninha)
Este olhar toda enlevada
Não desprendas, não me fites
Pois assim derramas fogo
Em minh´alma regelada.
Moreninha! (Moreninha,) vai-te embora
Com teus encantos maltratas;
(Moreninha, vai-te embora...)
Eu fui mártir das ingratas
Quando amei... Oh, vai-te embora!
Hoje fujo das mulheres
Pois fui mártir das ingratas.

O poeta ficou cego em 1908, mas nunca abandonou a literatura. Teve uma vida longa, faleceu em 7 de março de1931, de uremia, aos 95 anos.

Denominada Opus 17 n°1, a melodia de Nepomuceno para “Medroso de Amor”, reflete o romantismo de Juvenal e, ao ouvi-la, percebe-se, claramente, a simpatia que o maestro cearense nutria pelos ritmos populares brasileiros da época, como o maxixe, o tango brasileiro e o choro. Embora fosse músico erudito, Nepomuceno defendia com unhas e dentes a língua portuguesa. Ficou famosa uma frase supostamente a ele atribuída - “Não tem pátria um povo que não canta em sua língua”. 

Medroso de Amor” se destaca, na vasta obra de Nepomuceno, por ser uma das suas primeiras incursões no universo popular. O compositor daria novas demonstrações da sua paixão pelos ritmos populares ao convidar Catulo da Paixão Cearense e Ernesto Nazareth para participar das apresentações musicais da Exposição Nacional realizada em 1908. Em 1904, organizou os primeiros recitais com canções em língua portuguesa e inovou ao lançar a obra “O Garatuja” sobre texto de José de Alencar. Aquilo que foi, nas palavras de Manuel Negwer, “a primeira ópera inconfundivelmente brasileira em que ritmos nativos como lundu e maxixe são utilizados”. 

Em “Medroso de Amor”, o músico cearense parece ir buscar elementos rítmico-melódico da modinha, estilo musical romântico bastante popular no Brasil na metade do século XVIII e que teve como grande nome Domingos Caldas Barbosa, um descendente de escravo que fez grande sucesso na corte portuguesa do século 18. A música chegou a merecer análise de Mário de Andrade em “Ensaio Sobre a Música Brasileira”. 

Guida Borghoff e Luciana Monteiro de Castro, da UFMG, em uma breve análise, no site “Canções Brasileiras obras para Canto e Piano”, um guia de consulta sobre obras brasileiras para canto e piano, destacam: “Das canções escritas em 1894, primeiras canções de câmara escritas em português, esta é a que mais elementos nacionais apresenta melodias em frases curtas à maneira das modinhas e frases longas, associando versos, à maneira das serestas. Além destes aspectos melódicos, a presença de síncopes em um andamento 'presto' levou um crítico musical a referir-se à obra como um ´lundu transfigurado”.

A inovação musical de Alberto Nepomuceno na busca da nacionalização da música erudita não ficou imune aos críticos mais puristas. Oscar Guanabarino, um músico com sólida formação em piano e também uma espécie de feroz crítico musical da época, teceu violentos ataques contra aquilo que considerava uma “tentativa inconcebível de alteração da estética da música clássica mundial”. Outro defensor da música brasileira também seria alvo dos ataques de Guanabarino: Villa-Lobos viria a reger em 1921, uma versão orquestral de “Medroso de Amor”.

Segundo o ‘Catálogo geral de obras de Alberto Nepomuceno’, editado pela FUNARTE, a primeira audição de 'Medroso de amor' foi em um concerto realizado no dia 4 de agosto de 1895, no Instituto Nacional de Música, Rio de Janeiro, na voz de Leopoldo Noronha, acompanhado ao piano pelo próprio Nepomuceno. A obra não consta do programa impresso e nem dos comentários da imprensa realizados por críticos da época. 

Em 1968, Nara Leão gravou Medroso de Amor, apoiada em arranjos de Rogério Duprat, uma versão modernizada, sem as impostações líricas da maioria das versões interpretadas por sopranos.
Ouça a versão de Nara Leão e a mais tradicional representada pela soprano Patrícia Endro acompanhada por Dante Pignatari.





Fontes:
Pignatari,Dante; Canto da Língua: Alberto Nepomuceno e a Invenção da Música Brasileira - Tese de mestrado, 2009.
Negwer, Manuel; Villa-Lobos – O Florescimento da música brasileira, Editora Martins Fontes,2009
Canções Brasileiras -guia de consulta sobre obras brasileiras para canto e piano, www.grude.ufmg.br/cancaobrasileira Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...

Frase do Dia. Tom Jobim.

"Se eu fosse editor, ia buscar coisas no Nordeste:as coisas mais geniais do mundo estão lá"

(Tom Jobim) Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...

domingo, 10 de fevereiro de 2013

Jackson do Pandeiro também é frevo.

Em 1979, o ritmo contagiante do Frevo ficou ainda mais rico na voz do eterno Jackson do Pandeiro e Gilberto Gil. A música é “Sou Eu Teu Amor”, de dois pernambucanos: Alceu Valença e Carlos Fernando. O acompanhamento também é de primeira: Robertinho de Recife (guitarra), Paulo Rafael (guitarra), Geraldo Azevedo (violão), Novelli (baixo), Robertinho Silva (bateria), Jackson do Pandeiro (pandeiro), Rafael Rabello (violão de 7 cordas), Joel Nascimento (bandolim), Zé Américo (sanfona) e o maestro Juarez Araújo (clarinete e sax). A música foi gravada no disco “Asas da América”, de 1979. 

Comento: Autor de grandes sucessos como “Banho de Cheiro” e “Siri na Lata”, o compositor Caruaruense Carlos Fernando é o idealizador do projeto Asas da América, iniciado no início dos anos 80 - uma tentativa de modernizar o ritmo do frevo e levá-lo além das fronteiras de Pernambuco. O projeto Asas da América frutificou e gerou uma série de álbuns que contou com a participação de grandes nomes da MPB como: Chico Buarque, Gilberto Gil, Caetano Veloso e Jackson do Pandeiro a Marco Pólo, Geraldo Azevedo, Flaviola, Alceu Valença, Zé Ramalho, Elba Ramalho, Fagner, dentre outros.


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sexta-feira, 16 de novembro de 2012

Frase do dia. Alberto Nepomuceno.

"Não tem pátria um povo que não canta em sua língua"

(Alberto Nepomuceno)
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quinta-feira, 15 de novembro de 2012

Ary Barroso e o Futebol.

“Eu era uma das últimas pessoas a merecer esta doença tão aniquiladora, pelo meu temperamento. Mas foi muito bom. Essa doença fez-me encontrar. Hoje sou completamente diferente. Quando ficar bom e for falar com os meus amigos, muitos vão se espantar estarão falando com um outro Ary. Eu estava vivendo uma vida de artificialismo. Felizmente me encontrei. Quando ficar bom, quero ser um grande avô. Esporadicamente aparecerei na Noite.Imagine que o médico hoje disse não saber quando poderei me levantar. Não sinto nada, mas se levantar-me e for ver um Fla x Flu e voltar para a cama estou arriscado a morrer.”

(Ary Barroso)


A frase do compositor Ary Barroso - já em estado avançado da cirrose que iria matá-lo - bem demonstra a paixão do mineiro pelo futebol. Flamenguista roxo, Ary chegou a jogar no Botafogo Futebol Clube - não o Glorioso carioca , mas o homônimo da sua pequena Ubá, em Minas Gerais, lá pelos anos de 1921 a 1923. A miopia já era grande e nosso compositor enfrentava os petardos dos atacantes adversários com um par de óculos.Não se tem notícias das qualidades de atleta do nosso grande artista, mas em outra profissão ligada ao esporte mais popular dos brasileiros, sim. Ele se destacou como locutor esportivo. 

Tudo começou em 1936, quando o locutor Alfonso Scola teve que se internar às pressas devido a uma úlcera. Coube a Ary substituí-lo. Começava ali um estilo inovador de narração de jogo de futebol, com direito a comentários e opiniões. Inovou também o mineiro, ao incluir um toque de gaitinha de boca logo após a ocorrência de um gol. A paixão pelo Flamengo não era escondida e ficava clara no toque do instrumento. Enquanto para os demais times o gol era anunciado com dois ou três toques, para o Flamengo o gol era comemorando descaradamente com um longo e vibrante apito na gaita, motivo de ira para muitos torcedores dos times adversários. O sucesso foi tanto que o falecido músico Altamiro Carrilho se inspirou na gaitinha do Ary para fazer o fraseado de uma das gravações do choro “ Um a zero”.

Embora fosse um apaixonado por futebol, Ary pouco compôs sobre o assunto. Um dos raros exemplos foi “Chiribiribi qua quá”, uma parceria com Nássara que foi um grande sucesso no carnaval de 1937. Na letra, versos que utilizavam argumentos do futebol para relatar um frustrado caso de amor.A marchinha não era das melhores, comparada à qualidade do acervo deixado pelo Ubaense. Ao que parece, o compositor também concordava com minha avaliação: anos depois de compor “Chi-ri-bi-ri-bi, qua-qua”, ele declarou:

“Preferência... Tudo, menos irradiar futebol.
Chateia... a música Chi-ri-bi-ri-bi, qua-qua, de minha autoria.”

Ouça a composição interpretada pelo Bando da Lua. Agradeço ao grande pesquisador Nirez o envio do áudio.

Fonte:
Xavier,Beto, Futebol no País da Música,Editora Panda Books,2009.


Letra:
Chiribiribi quá quá
Ary Barroso / Antônio Nássara - 1936

Chiribiribi quá quá
Chiribiribi quá quá
Nosso amor, há de ser campeão
Chiribiribi quá quá
Chiribiribi quá quá
O juiz o juiz é o coração

Eu procurei fazer um gol no teu amor
Fiquei nervoso e perdi a direção
O juiz apitou sem ter razão
O juiz, o juiz é um ladrão

Pra que juiz marcar o jogo entre nós dois
Si vale "foul", vale "offside" e bofetão
É melhor o juiz lamber sabão
Oh! O juiz, o juiz é um ladrão

Ficha técnica da faixa
[ Marcha carnavalesca - Victor 34.115B - Intérprete Bando da Lua - gravada em novembro de 1936 e lançada em dezembro de 1936] Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...

domingo, 28 de outubro de 2012

Frase do Dia.Mahatma Gandhi.

"Odeio o privilégio e o monopólio. Para mim, tudo o que não pode ser dividido com as multidões é tabu"

(Mahatma Gandhi)
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Filme “O Rei do Samba”. A Vida de Geraldo Pereira.

O filme “O Rei do Samba”, de José Sette, apresenta trajetória de Geraldo Pereira, um dos maiores compositores do Brasil. Como tantos exemplos na MPB, sua obra é bem mais conhecida do que o próprio autor. São dele clássicos como: “Falsa Baiana”, “Baiana que entra no samba e só fica parada/Não samba, não dança, não bole nem nada/Não sabe deixar a mocidade louca...”, “Sem Compromisso”, “Você só dança com ele/E diz que é sem compromisso/É bom acabar com isso/Não sou nenhum pai-joão/Quem trouxe você fui eu/Não faça papel de louca/Prá não haver bate-boca dentro do salão...”, “Escurinho”, “Acertei no Milhar” (Etelvina, Acertei no milhar/Ganhei 500 contos/Não vou mais trabalhar.../, e “Bolinha de Papel”.

Mineiro de Juiz de Fora, de origem bastante humilde, Geraldo após deixar Minas Gerais, foi morar no Rio de janeiro, no Morro da Mangueira, onde trabalhou como motorista de caminhão da empresa de limpeza urbana do Rio e, a exemplo de Cartola, Nelson Cavaquinho, Nelson Sargento, seus companheiros de rodadas de samba, ganhou a admiração de gigantes da MPB, como Chico Buarque, João Gilberto, Roberto Silva, Ciro Nogueira, Moreira da Silva, Zeca Pagodinho, dentre muitos outros que se encantaram com seu estilo de samba sincopado e melodias sofisticadas.

O compositor tinha uma vida boêmia e desregrada, por isso faleceu jovem, em 1955, aos 37 anos, pouco tempo depois de levar um violento soco, durante uma briga com o lendário malandro da Lapa “Madame Satã”, o que levantou especulações de que essa teria sido a causa da sua morte. Na verdade, pelos depoimentos de amigos, e do próprio Madame Satã, o artista já estava com a saúde bastante debilitada e, mesmo assim, continuava sua vida de bebedeira pelas madrugadas do Rio de Janeiro , este, provavelmente, foi o motivo da sua morte, alguns dias depois de ser internado.

O filme, apesar de alguns exageros nos diálogos, o que o torna enfadonho em alguns momentos e da proposital economia nos cenários e figurinos de época, fornece muitas informações sobre a vida do grande compositor. Vale a pena conferir.



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domingo, 21 de outubro de 2012

Frase do Dia. François de La Rochefoucauld


"A juventude é uma longa intoxicação: ela é a razão em estado febril."


(Duque de La Rochefoucauld)
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O Rio Antigo de Chico Anysio e Nonato Buzar.

Qual a Melhor Versão?


O Rio de Janeiro continua lindo, mas para o saudoso Chico Anysio e Nonato Buzar era bem melhor. A música Rio Antigo é um passeio pelas coisas boas do Rio de antigamente, uma bela viagem de reminiscências poéticas do humorista cearense e Nonato Buzar.

Ouça a música na voz de Chico cantando em dueto com o também inesquecível humorista Mussum. Cauby Peixoto, Maria Cleuza e Alcione parecem também concordar com a visão saudosista de Chico Anysio e gravaram sua versão da música. Confira nos vídeos abaixo e escolha “Qual é a melhor versão?”

Mussum e Chico Anysio


Cauby Peixoto

Maria Cleuza

Alcione

Rio Antigo (Letra)
Nonato Buzar/Chico Anysio
Quero um bate-papo na esquina
Eu quero o Rio antigo
Com crianças na calçada
Brincando sem perigo
Sem metrô e se frescão
O ontem no amanhã
Eu que pego o bonde 12 de Ipanema
Pra ver o Oscarito e o Grande Otelo no cinema
Domingo no Rian
Me deixa eu querer mais, mais paz
Quero um pregão de garrafeiro
Zizinho no gramado
Eu quero um samba sincopado
Baioba, bagageiro
E o desafinado que o Jobim sacou
Quero o programa de calouros
Com Ary Barroso
O Lamartine me ensinando
Um lá, lá, lá, lá, lá, gostoso
Quero o Café Nice
De onde o samba vem
Quero a Cinelândia estreando "E o Vento Levou"
Um velho samba do Ataulfo
Que ninguém jamais agravou
PRK 30 que valia 100
Como nos velhos tempos
Quero o carnaval com serpentinas
Eu quero a Copa Roca de Brasil e Argentina
Os Anjos do Inferno, 4 Ases e Um Coringa
Eu quero, eu quero porque é bom
É que pego no meu rádio uma novela
Depois eu vou à Lapa, faço um lanche no Capela
Mais tarde eu e ela, nos lados do Hotel Leblon
Quero um som de fossa da Dolores
Uma valsa do Orestes, zum-zum-zum dos Cafajestes
Um bife lá no Lamas
Cidade sem Aterro, como Deus criou
Quero o chá dançante lá no clube
Com Waldir Calmon
Trio de Ouro com a Dalva
Estrela Dalva do Brasil
Quero o Sérgio Porto
E o seu bom humor
Eu quero ver o show do Walter Pinto
Com mulheres mil
O Rio aceso em lampiões
E violões que quem não viu
Não pode entender
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domingo, 30 de setembro de 2012

Frase do Dia. Marco Aurélio.

"Nossa vida é o que os nossos pensamentos determinam."

(Marco Aurélio)
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sábado, 29 de setembro de 2012

Momentos de Hebe Camargo na Record.

O vídeo apresenta bons momentos de Hebe Camargo na Record. Lá pelos anos sessenta e setenta, a grande apresentadora, que hoje nos deixa, também cantava, participava de programas humorísticos e até novela. Realmente uma grande perda para a televisão brasileira.



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Lupicínio Rodrigues. Uma história em cada música.


Curiosidades da Música Popular Brasileira.

Eu não tenho nada com o ambiente artístico brasileiro. Eu não sou músico, não sou compositor, não sou cantor, não sou nada. Eu sou boêmio”

Foi com essas palavras que o compositor Lupicínio Rodrigues se definiu em uma entrevista ao jornal "O Pasquim" , realizada nos anos 70 (Edição N.I 225 - 23 a 29-10-73). A declaração está em parte correta. Como cantor  não era dos melhores - a voz era pequena e limitada, mas como compositor, foi um dos melhores do Brasil.  Portanto, há de se atribuir a auto-avaliação ao excesso de modéstia do gaucho. Realmente, ele era boêmio e a vida de boêmia lhe propiciou os argumentos de muitas das suas composições.Talvez esteja aí o elo para seu orgulho em se confessar apenas um homem da noite. Foram vários casos amorosos seguidos de desilusões que se transformaram em inspiração para muitas de suas músicas de sucesso.Lupicínio era um mestre em tranformar suas agruras amorosas e fatos do cotidiano em belas música. Sobre esse assunto ele declarou na mesma entrevista:

Meu camarada, eu realmente tive muitas namoradas na minha vida. Umas me fizeram bem, outras me fizeram mal. As que me fizeram mal foram as que mais dinheiro me deram”- disse, se referindo à inspiração para as músicas -“porque as que me fizeram bem eu esqueci”. Complementou.

A mulata Iná foi  foi seu primeiro amor e a primeira desilusão. Ele a conheceu quando tinha apenas 17 anos e, aos 22, ao ser abandonado, compôs "Nervos de Aço”. Jairo Severiano e Zuza Homem de Melo, no livro “A Canção no Tempo” esclarece a razão do abandono: “o poeta prometia, mas não se decidia a casar...”. Para Iná, o gaucho escreveu também "Zé Ponte", "Xote da Felicidade" e outras que não cita na entrevista.

A música "Vingança" foi outro desses casos baseado em fato real. A mulher, uma carioca, chamada Mercedes, viveu com o compositor por seis anos e depois tentou traí-lo com um garoto de 16 ou 17 anos que era seu empregado. Alertado pelo garoto sobre a tentativa de traição, Lupicínio abandonou a moça e empreendeu sua “vingança” poética. Indagado sobre como veio a inspiração, o compositor declarou:

Era época do carnaval, ela endoidou. Botou um “Dominó". "Dominó” é aquela fantasia preta, que cobre tudo. No carnaval, feito louca foi me procurar. Uma certa madrugada, ela, num fogo danado - parece que deu fome - entrou num bar onde a gente costumava comer. Foi obrigada a tirar o "Dominó” pra comer, e o pessoal a reconheceu. Perguntaram - “Ué, Carioca, que você está fazendo aqui a essa hora”? Cadê o Lupi?" Ela sozinha.” E continuou: “Ai ela começou a chorar. Eu estava num restaurante do outro lado. Uns amigos chegaram e me disseram: encontramos a Carioca vestida de "Dominó”, num fogo tremendo. Começou a chorar e perguntar por ti. O que que houve, vocês estão brigados?" Aí foi que eu fiz o "Vingança". Na mesma hora comecei, saiu (canta) "Gostei tanto, tanto, quando me contaram ... ". 

Tempos depois, em uma crônica escrita para o jornal última Hora, em 1963, justificou a dureza dos versos: “nunca se está livre de ter, num momento de rancor, algum desejo de vingança”. 

Existe muitas outras histórias para explicar outras músicas do nosso Rei da Dor de Cotovelo. “Se Acaso você Chegasse” um grande sucesso,composto em parceria com Felisberto Martins, em 1936, é outro caso de música baseada em um fato real, tendo como protagonista o artista e um amigo chamado Heitor Barros, de quem havia tomado a namorada, mas não queria perder a amizade. Também tem a história de "Esses moços", mas isso já e assunto para outro post.


Comento: Lupicínio Rodrigues (Porto Alegre, 16 de setembro de 1914 — Porto Alegre, 27 de agosto de 1974) era o quarto de 21 filhos. Um raro caso de sucesso fora do eixo Rio São Paulo. Nunca deixou sua Porto Alegre querida. Proprietário de restaurantes, costumava receber amigos e artistas, como Jamelão, para canjas nas intermináveis madrugadas frias da capital do Rio Grande do Sul. Aos 12 anos, já fazia composição para os blocos carnavalescos de sua cidade. O grande compositor confessava que começou a cantar, lá pelo início da década de 1930, imitando Mário Reis. Declarou, certa vez, que o compositor Jourbert De Carvalho era o seu “professor de versos”

Da lavra de Lupicínio saíram versos que ficaram eternos na música brasileira. Quem não se lembra de: “Se eles julgam que o futuro / só ao amor dessa vida conduz / saibam que deixam o céu por ser escuro / e vão ao inferno à procura da luz" ou “Ela nasceu com o destino da lua / pra todos que andam na rua / não vai viver só pra mim" e “É melhor brigar junto do que chorar separado”. Admirador de Jamelão, seu interprete preferido, foi gravado por um incontável número de intérpretes de peso.

Outra curiosidade sobre Lupicínio. São dele os conhecidos versos e a melodia do Hino do Grêmio de Porto Alegre: "Até a pé nos iremos / para o que der e vier. Mas o certo é que nós estaremos com o Grêmio onde o Grêmio estiver”.

Vingança



Nervos de Aço



Zé Ponte (com Nina Wirtti e Yamandu Costa)


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domingo, 16 de setembro de 2012

Frase do Dia. Montaigne.

“O homem não é tão atingido pelo que acontece, mas pela sua opinião a respeito do que acontece.”

(Michel Eyquem de Montaigne)
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Cordas de Aço - Cartola.


Qual a melhor versão?

Cordas de Aço, do genial Cartola, é uma daquelas músicas que, quem “é de violão”, se apaixona à primeira vista. É fato: o estilo intimista da canção cativa um grande número de cantores e cantoras - profissionais e amadores.A composição do mangueirense parece se contentar apenas  com o violão, sem reclamar apoio de outros instrumentos, justificando os argumentos da sua letra.

Ouça a bela obra na voz do seu criador e, na sequencia: Luiz Melodia, Saulo Fernandes - vocalista da banda Eva, Gal Costa e Beth Carvalho. Fica aqui o desafio: escolha a melhor versão.

cartola



Luiz Melodia


Saulo Fernandes


Gal Costa


Beth Carvalho




Letra.
Cordas de Aço
Ah, essas cordas de aço
Este minúsculo braço
Do violão que os dedos meus acariciam
Ah, este bojo perfeito
Que trago junto ao meu peito
Só você violão
Compreende porque perdi toda alegria
E no entanto meu pinho
Pode crer, eu adivinho
Aquela mulher
Até hoje está nos esperando
Solte o teu som da madeira
Eu você e a companheira
Na madrugada iremos pra casa
Cantando...
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quinta-feira, 13 de setembro de 2012

Frase do Dia. Emerson.

" Um homem é o que ele pensa o dia todo".

(Ralph Waldo Emerson)


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domingo, 9 de setembro de 2012

O adeus a Roberto Silva. Nosso eterno Príncipe do Samba.


O estilo elegante e sincopado de Roberto Silva deixará saudades. O cantor, falecido aos 92 anos, era respeitado por artistas da velha e nova geração que consideravam uma honra cantar ao lado do nosso eterno Príncipe do Samba. É o caso confesso de Caetano Veloso, Roberta Sá e Paulinho da Viola, dentre outros. Caetano, por exemplo, ao final de uma apresentação em parceria com o cantor, declarou humildemente:  "cantar com Roberto Silva é inacreditável".

Sempre admirei o estilo de Roberto Silva, mas nunca havia testemunhado suas interpretações ao vivo. Em 12 de outubro de 2009, tive, finalmente, a grande felicidade em assistir a um show do cantor. Foi no BNB Clube, em Fortaleza, Ceará. Uma verdadeira aula de profissionalismo. Um desempenho impecável de 90 minutos. Nem parecia ter os 89 anos de idade de então. O sambista parecia um menino no palco. A elegância era a de sempre. Dançou, brincou com o público e cantou muito, nos presenteando com grandes sucessos como: Maria Teresa, Emília, Escurinho, Rosa, Falsa Baiana, Juraci, dentre tantos outros. Tudo isso sem ensaio, como me confessou um integrante do regional que o acompanhou. 

Ficou inesquecível. Como registro do show do sambista que hoje nos deixa, ficou a foto desse post, tirada ao final da apresentação daquele que considero um dos maiores cantores da história da nossa MPB .

Juraci com Casurina


Falsa Baiana com Roberta Sá

Seu Libório


Normélia


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sábado, 18 de agosto de 2012

Frase do Dia. H. H. Breckinridge.

"Para falar brevemente sobre um assunto, estude-o longamente."

(Hugh Henry Breckinridge) Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...

quarta-feira, 15 de agosto de 2012

Lançada mais uma edição da Revista Singular.

Saiu mais uma edição da prestigiada Revista Singular. Como sempre, recheada de matérias interessantes em vários segmentos do jornalismo. Destaque para uma entrevista concedida por Carlos Drummond de Andrade ao jornalista cearense Edmilson Caminha, em 1984. O jornalista Eliezer Rodrigues, editor da revista, chama a atenção também para uma matéria sobre Thomaz Pompeu Gomes de Matos que há 70 anos entrou para a história da imprensa no Ceará, ao registrar flagrantes de um quebra-quebra, no Centro de Fortaleza.

                                                Baderna em Fortaleza, em 1942. Tomaz Pompeu fotografou tudo

Participo mais uma vez com um artigo sobre a criação da música Revelação, composição dos irmãos piauienses Clodo e Clésio. A música que lançou Fagner para o grande público tem uma interessante história na sua gênese.

A revista foi realizada tanto na versão impressa como na virtual. Confira a versão eletrônica no site da revista (aqui) Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...

domingo, 12 de agosto de 2012

Nair de Teffé. A protetora dos músicos populares.

Já tive oportunidade de escrever nesse blog diversos exemplos do preconceito que sofriam os músicos populares no início do século. Instrumentos com pandeiro e violão eram considerados “coisa de malandro” e, por isso, os músicos eram perseguidos pela polícia. Alguns deles chegavam a ter seus dedos “vistoriados” pelos homens da lei, a procura de calos denunciadores da intimidade do músico com o violão ou cavaquinho. Ficou célebre, por exemplo, o episódio envolvendo a apreensão, pela polícia, do pandeiro do compositor João da Baiana (veja aqui). O grande Pixinguinha, Donga e os demais componentes dos Oito Batutas, mesmo depois de uma temporada de sucesso em Paris, chegaram a ser barrados na entrada  de um hotel onde seriam homenageados e tiveram que se submeter à humilhação de entrar pela cozinha. O episódio seria a inspiração para o Choro "Lamentos" (mais detalhes aqui).

É fato, parte da sociedade da época virava as costas para os músicos e ritmos populares como o maxixe, mas esses tinham também seus defensores. Pinheiro Machado, o poderoso senador pelo Rio Grande do Sul, foi um deles, protegendo nosso João da Baiana de novos constrangimentos, ao presenteá-lo com um novo pandeiro, dessa vez com uma dedicatória identificando-o como doador - ao ver a assinatura do senador no pandeiro, policial nenhum se atreveria a confiscá-lo.

Outra personalidade a desafiar os costumes foi Nair de Teffé, segunda esposa do Presidente da República, o Marechal Hermes da Fonseca, que governou o Brasil entre 1910 e 1914. Nair de Teffé Von Hoonholtz (1886-1981), seu nome de batismo, tinha 27 anos quando casou com o já quase sexagenário marechal. Tinha educação esmerada - chegou a estudar em Paris, Marselha e Nice. Era ótima caricaturista, tocava piano e tinha comportamento bastante avançado para a época.

A jovem primeira-dama escandalizou a sociedade conservadora do Rio de Janeiro ao promover saraus nos salões do Palácio do Catete, dando oportunidade ao músico Catulo da Paixão Cearense de introduzir o violão, instrumento, até então, renegado nos salões da elite brasileira. A primeira dama, realmente, tinha grande paixão pela música popular e ficara intrigada ao ouvir um comentário de Catulo de que nas recepções oficiais só se tocava música estrangeira. Assim, em 26 de outubro de 1914, aproveitando as solenidades de despedida da gestão do marido, abriu espaço, em uma recepção oficial, para a música brasileira com direito a desempenho pessoal tocando o maxixe “Corta-Jaca”, da lendária pianista brasileira Chiquinha Gonzaga, a quem a primeira dama nutria uma grande admiração. 

O evento ficaria conhecido como “A Noite do Corta-Jaca”. Anos depois, Rian - pseudônimo utilizado pela polêmica Primeira-dama (Nair ao contrário) - declararia que a festa foi um sucesso e definiu o evento com o termo “Noite prafrentex” e que havia desafiado a sociedade que valorizava o erudito em favor do ritmo popular brasileiro.Na verdade, o Maxixe já fazia sucesso na Europa, principalmente na França, onde foi difundido por artistas brasileiros, a exemplo do dançarino Duque. O ritmo era dançado com características sensuais e incomodava até a alta cúpula da Igreja Católica que o considerava, em conjunto com o tango argentino, ofensivo à moral e, portanto, proibida a cristãos. Ficaram famosas as quadrinhas popularizadas pelo espírito gozador do Carioca.

Se o santo Padre soubesse
O gosto que o tango tem,
Viria do Vaticano
Dançar o maxixe também.


Dentro desse clima de embate entre defensores do excomungado ritmo nacional e a corrente mais conservadora, o atrevimento da Primeira Dama gerou uma série de críticas. Jornais estamparam manchetes, muros amanheceram pichados com caricaturas de “Dudu da Urucubaca” - apelido conferido ao presidente, por ser considerado azarado e vítima de várias crises no seu governo, como a Revolta da Chibata. Quadrinhas satíricas apareciam nos jornais ridicularizando o velho presidente, coisas como:

O Duduzinho
Da Urucubaca
É o homenzinho
Do Corta-jaca

[...]


Mulata de perna grossa

Cavaca no chão, cavaca

Quero ver para quantos vales

No jogo do Corta-jaca

[...]


Não uso arma nenhuma,

Nem bacamarte, nem faca!

Uso apenas o meu “pinho”

Pra tocar o "Corta-jaca”!

...

Na quitanda tem legumes

No açougue carne de vaca

Na padaria tem roscas
No Catete “Corta-Jaca”.

[...]


Dentro desse clima, até o nosso grande Rui Barbosa, que era visto nos cinemas ouvindo os recitais de Ernesto Nazareth (ver detalhes aqui), indignou-se e proferiu um violento discurso no Senado Federal:

“[...] Uma das folhas de ontem estampou em fac-símile o programa da recepção presidencial em que diante do corpo diplomático, da mais fina sociedade do Rio de Janeiro, aqueles que deviam dar ao país o exemplo das maneiras mais distintas e dos costumes mais reservados elevaram o Corta-Jaca à altura de uma instituição social. Mas o Corta-Jaca de que eu ouvira falar há muito tempo, que vem a ser ele, Sr. Presidente? A mais baixa, a mais chula, a mais grosseira de todas as danças selvagens, a irmã gêmea do batuque, do cateretê e do samba. Mas nas recepções presidenciais o Corta-Jaca é executado com todas as honras da música de Wagner, e não se quer que a consciência deste país se revolte, que as nossas faces se enrubesçam e que a mocidade se ria?”

Hoje considerado uma tolice preconceituosa, o que Rui Barbosa buscava no discurso era desgastar, ainda mais, a imagem do presidente Hermes, seu opositor político e que o derrotara na última eleição presidencial, em um pleito, como era comum na época, marcado por denuncias de fraudes eleitorais. Nair iria se vingar publicando uma caricatura ridicularizando o nosso Águia de Haia. Fala-se que um irritado Rui Barbosa teria retrucado:  “Certas mocinhas se divertem fazendo gracejos à custa de homens sérios como eu.”

O desgaste político sofrido pelo presidente, que já não era muito popular, foi evidente, mas não adiantou tanta indignação dos mais conservadores e do nosso grande civilista baiano: aos poucos, nossos pioneiros do samba, graças a seus protetores e, obviamente, grande talento, foram ganhando espaço nos salões da classe média. O nosso maxixe ia amadurecendo, aos poucos ganhava um ritmo mais veloz que se consolidaria como o preferido dos brasileiros: nasceria em breve o nosso querido samba na forma que conhecemos agora.

Ouça o tango brasileiro "Corta-Jaca"  também conhecido como Gaúcho.




Fontes:
Lago, Mário, Na Rolança dos tempos, Editora José Olimpio, 2011.
Diniz, Edinha, Chiquinha Gonzaga. Uma história de Vida, Editora Zahar, 2009.

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