domingo, 3 de outubro de 2010

Infância. Carlos Drummond de Andrade.

Meu pai montava a cavalo, ia para o campo.
Minha mãe ficava sentada cosendo.
Meu irmão pequeno dormia.
Eu sozinho menino entre mangueiras
lia a história de Robinson Crusoé,
comprida história que não acaba mais.

No meio-dia branco de luz uma voz que aprendeu
a ninar nos longes da senzala – e nunca se esqueceu
chamava para o café.
Café preto que nem a preta velha
café gostoso
café bom.

Minha mãe ficava sentada cosendo
olhando para mim:
- Psiu... Não acorde o menino.
Para o berço onde pousou um mosquito.
E dava um suspiro... que fundo!

Lá longe meu pai campeava
no mato sem fim da fazenda.

E eu não sabia que minha história
era mais bonita que a de Robinson Crusoé.

Ouça  o  Poema recitado pelo próprio Carlos Drummond de Andrade Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...

Um comentário:

  1. Bacana teu blog. Você conhece o meu? http://papopoetico.blogspot.com/
    Que tal uma olhada e um palpite?
    Tudo de bom

    ResponderExcluir