Não posso ser chamado de um fã ardoroso de Michael Jackson. Nunca comprei o disco do cantor e, mesmo admitindo que se tratava de um inquestionável fenômeno da música mundial, nunca me preocupei em acompanhar sua trajetória artística. Agora, após a sua morte e a compreensível overdose de cobertura da mídia, me toquei como a obra do astro americano acompanhou momentos importantes da minha vida, desde a já distante adolescência até os dias de hoje.
A começar com a melosa “Bem”, de 1972, que embalava os “assustados” - como eram chamadas as festinhas realizadas em garagens, nos bons momentos da minha pré-adolescência em João Pessoa, tempos da luz negra, trapos e tintas fosforescentes nas paredes. Tempos em que, sem ter a menor idéia do que dizia a música, enfrentava trêmulo, o desafio de chamar as meninas para dançar, correndo o risco de uma rejeição explícita e o pior, agüentar a gozação impiedosa dos amigos.
Depois, o agitado período da faculdade, no final dos anos setenta, início dos anos 80. A ditadura militar já dava sinais de esgotamento e nas discotecas dançávamos ao som de “Don't Stop 'Til You Get Enough” e Rock With You.
Em 1982 veio a fase de "Thriller", uma virada na carreira do cantor, onde ele atingiu definitivamente o megaestrelato. Na época eu era um esperançoso recém-formado, com emprego e já quase independente.
Em 1985, já totalmente dono do meu nariz, ouvi o histórico encontro de superastros, liderados por Michael Jackson e Lionel Richie, cantando We Are The World para a campanha USA For África- um momento mágico da solidariedade humana.
Bad, álbum de 1987, chegou junto com os preparativos do meu casamento que ocorreria em dezembro. Na época já me espantava com o início de transformação física do cantor.
Em 1991, já um responsável pai de dois, dos meus três filhos, vi "Dangerous" ser lançado em conjunto com os caríssimos vídeosclipes, repletos efeitos especiais.
Daí em diante, a rápida transformação física do artista, os escândalos, a lenta decadência artística e financeira, culminando, finalmente, com a sua morte, paradoxalmente, a senha definitiva de entrada para a galeria dos mitos da música, ao lado de Elvis Presley e John Lennon.
Hoje, estou a alguns meses de completar cinqüenta anos e como tantos felizes cinqüentões, que, como eu, aprenderam a dançar ouvindo o jovem líder dos Jackson Five, me comovo com a partida do menino Michael, um garoto que, infelizmente, não aceitou ter cinqüenta anos.
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Excelente abordagem...
ResponderExcluirDevemos ter quase a mesma idade. Encontrei-me na leveza das tuas palavras e na cronologia da tua narrativa.
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